Indústria perde R$ 17,3 bilhões. Será?

Deu no Estadão de hoje: a indústria brasileira teria perdido R$ 17,3 bilhões apenas nos primeiros nove meses de 2010, por conta das importações, deixando de criar 46 mil empregos. O estudo, produzido pela Fiesp, mostra que o coeficiente de importações, que mede a demanda interna suprida por produtos importados, passou de 19,6% no acumulado de janeiro a setembro de 2008 para 21,2% em 2010. Segundo relata o jornal, com base no estudo, “se o setor não tivesse perdido participação para os produtores estrangeiros, as importações do setor cairiam de R$ 232,4 bihões para R$ 215 bilhões. Ao mesmo tempo, a produção doméstica subiria de R$ 1,055 trilhão para R$ 1,072 trilhão.” O emprego industrial aumentaria 0,58%.

Números impressionantes, não? Acontece que são enganosos. O estudo é vítima de uma armadilha da estatística. O defeito da análise está no que os economistas chamam de “equilíbrio parcial”. Um determinado fato não pode ser isolado do todo sem consequencias. Daí o paradoxo: se o nível de utilização da capacidade da indústria está nas proximidades de seus máximos históricos, como falar em perda? É que o aumento das importações tem efeitos sistêmicos, que não podem ser revelados apenas pelo comportamento das compras externas.

Não tem lógica o cálculo da Fiesp. É preciso ver o todo. A valorização cambial, tida como causa de uma suposta desindustrialização, aumenta os salários reais e eleva o poder de compra da classe trabalhadora. Ou seja, incrementa a demanda. As importações de partes, peças e componentes barateia o preço final de produtos industriais e aumenta suas vendas. Mais renda, mais crédito e menores preços contribuem para elevar a demanda de produtos industriais. Assim, mesmo que tenha havido mais importações, as empresas podem estar vendendo mais e não menos, como erradamente diz o estudo. Como explicar que a indústria automobilística tenha registrado recorde de produção em 2010, ano em que aumentaram substancialmente as importações de veículos?

Claro, haverá casos em que as empresas reduziram sua produção por conta da concorrências das importações. Mas isso não dá para generalizar. A coisa é mais complicada do que sugere o estudo da Fiesp, que impressionou os jornalistas e editores do Estadão. A notícia vai alimentar o lobby por medidas forçadas de desvalorização cambial. Os trabalhadores que se cuidem, pois pode vir mais inflação. Se as importações caírem em meio a aumento dos índices de preços, pode haver queda da demanda e da produção industrial. Aí verdadeiramente.

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