O velho Brasil desafia Dilma
O Brasil velho não esperou a nova presidente assumir. Atacou com sua velha arma: a vetusta aliança entre sindicatos poderosos e organizações empresariais mal acostumadas com o intervencionismo estatal. Sob a liderança da Força Sindical, sindicatos que representam trabalhadores do Estado de São Paulo querem que o novo governo adote medidas protecionistas para reverter o ritmo de importações. A proposta teria sido secundada pela Fiesp. Isso depois de negociações que garantiram ganhos reais de salários de 6% este ano.
Essa aliança funcionou nos tempos dos programas de substituição de importações do passado. Como se recorda, esses programas contribuíram para a industrialização do Brasil, mas de forma muito ineficiente. Criamos uma indústria pouco competitiva e oligopolizada. O controle de preços permitia o repasse de todos os seus custos, inclusive os salariais. Por isso, muitas empresas podiam conceder reajustes reais superiores aos ganhos de produtividade, os quais eram considerados nas planilhas de custos submetidas aos órgãos controladores de preços, que os aprovavam. Ganhavam as empresas e seus trabalhadores. Perdiam os consumidores e os trabalhadores de outros setores. Ao lado do descaso pela educação, esse esquema contribuiu substancialmente para os níveis de concentração de renda que ainda envergonham o Brasil.
A aliança pede também uma desvalorização cambial, como em outras épocas. Para fazê-la como solicitado, o governo teria que intervir no Banco Central, emitindo uma ordem para a baixa voluntarista da taxa de juros. Aliás, há empresários pedindo explicitamente essa medida. O resultado seria uma crise de confiança que teria graves efeitos inflacionários. Esse passado, do qual pensávamos estar livres, também voltaria.
Espera-se que a futura presidente possa receber conselhos melhores, que a habilitem a se fazer de surda diante do novo ataque do Brasil atrasado.