A proposta de Dilma é válida, mas o que mede para valer é o PIB
Provavelmente assustada com crescentes sinais de que estão furadas as previsões de seu ministro da Fazenda quanto ao crescimento do PIB, a presidente Dilma buscou, ontem, desviar a atenção sobre o medíocre desempenho da economia. “Uma grande nação deve ser medida por aquilo que faz para suas crianças e adolescentes, não é o PIB”, disse ela. Para a presidente, o importante é observar “a capacidade de o país, do governo e da sociedade de proteger o seu presente e seu futuro”. Perfeito. Acontece que não dá para medir tal ação. Não é possível desprezar o PIB, que mede o desempenho econômico de um país e permite compará-lo com o de outras nações. Por isso, todos adotam esse indicador.
Goste-se ou não, até hoje não apareceu medida melhor do que a do PIB, malgrado suas reconhecidas deficiências. Políticos e economistas têm buscado encontrar outras réguas, particularmente uma que meça o bem-estar social, que não faz parte da métrica do PIB. Quem mais próximo chegou de uma medida alternativa (ou paralela) foi o economista indiando e prêmio Nobel de Economia, Amartya Sen, autor do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) adotado pela ONU.
O IDH é calculado com base em dados (não há como fugir deles) de expectativa de vida ao nascer, educação e PIB per capita (olha o PIB aí de novo). Anualmente, a ONU divulga a lista dos países classificados de acordo com essas três medidas. O maior PIB do mundo, como se sabe, é o dos Estados Unidos. O maior IDH é o da Suécia.
Um pequeno país da Ásia, o Butão, criou uma medida adicional, o Índice de Felicidade Bruta (IFB), que pretende medir o desenvolvimento com base na felicidade das pessoas e de seus respectivos direitos sociais. O IFB do Butão leva em conta a satisfação pessoal medindo (não tem como evitar) os níveis de educação, saúde e cultura. O IFB é muito elogiado mundo afora, mas não passa disso. Ninguém, afora o Butão, se dispôs a adotar o tal índice.
Resta saber como se mediria objetivamente o desempenho do Brasil pelo que se faz em favor das crianças e adolescentes. Certamente seria possível construir um índice específico, a um custo elevado e com serventia limitada. Seja como for, a presidente tem razão. É preciso cuidar das crianças e adolescentes. Acontece que os governos do PT olham mais para os idosos do que para esse segmento da população.
De fato, os gastos públicos dos últimos dez anos cresceram mais em benefício dos aposentados e pensionistas do que das crianças e adolescentes. Os gastos sociais per capita em favor dos idosos pobres é trinta vezes maior do que os dedicados às crianças pobres. Na educação, os governos do PT deram mais atenção à universidade pública gratuita do que à das crianças e adolescentes. Tomara que o discurso da presidente esconda o desejo de mudar as próprias ênfases sociais dos governos do seu partido.