Dilma fala sobre juros. Banco Central vira cumpridor de ordens

Presidentes não se manifestam sobre a trajetória da taxa de juros. Dilma fala do assunto com desenvoltura, provavelmente imaginando que, como economista, conhece o assunto e, como chefe do governo, tem o direito de dizer o que pensa sobre o assunto. Não me recordo de ter visto outro presidente pronunciando-se sobre o tema. Desde que o Banco Central adquiriu autonomia na prática, no governo FHC, quem falava sobre juros eram seus diretores e apenas em sua comunicação institucional com analistas e agentes do mercado financeiro, de forma pública e transparente. Nem FHC nem Lula – que deu continuidade à política econômica – se manifestavam sobre essa questão. Tampouco se viu os últimos ministros Fazenda, especialmente Pedro Malan e Antonio Palocci, dizerem quanto deveria ser a taxa de juros ideal para o Brasil. Mantega falou nesta segunda-feira em 2% a 3% reais.

O que se vê, na verdade, é subordinação crescente da política monetária aos objetivos do governo. A prioridade passou a ser o crescimento da economia e não o cumprimento da meta para a inflação. O BC perdeu a capacidade de influenciar expectativas, que deixaram de se ancorar em convicções formadas por sua ação e comunicação. A dispersão é enorme e preocupante. A partir do Plano Real, a definição da trajetória da taxa Selic era atribuição do BC. Agora, é cada vez mais território dominado pela presidente da República e pelo ministro da Fazenda. Ambos fala abertamente sobre a taxa de juros, sem receios de minar a credibilidade do BC. Quem agora influencia expectativas é a presidente. Os mercados se posicionam com base em suas opiniões.

O novo ambiente já foi captado pelos jornalistas de Brasília. As matérias relativas ao tema são geradas pelos repórteres da área política e não de economia. As fontes estão no Palácio do Planalto e não no BC, sinalizando a percepção de que as definições da Selic são agora ditadas pela Presidência da República. Nessa nova realidade, começam também a falar, com desenvoltura, críticos intramuros da política monetária, situados em postos relevantes do governo. Antes, principalmente na era Lula, se calavam; agora, se sentem seguros para fazer declarações sobre juros, inflação e outros assuntos econômicos. É o caso do ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria Geral da Presidência da República. No último domingo, ele emitiu opiniões sobre esses temas – que fogem de suas atribuições – em matéria do Estadão.

Segundo o mesmo jornal, Dilma já teria decidido que a taxa Selic será reduzida para 9% em 2012. Analistas que têm visitado Brasília voltam convencidos de que Tombini, Mantega e equipes vão trabalhar para atender o desejo da presidente. Como assinalei em meu artigo desta semana na revista Veja, a hora da verdade virá com a inflação. É grande o risco de o ritmo de crescimento dos preços superar o limite superior da meta (6,5%) em 2011. E dificilmente convergirá para o centro (4,5%) em 2012, como promete o presidente do BC.

Se a nova política econômica fracassar em cumprir metas de inflação, o BC tenderá a reagir, na tentativa de recuperar sua reputação e credibilidade. Resta saber se Dilma e Mantega aceitarão a volta da política monetária aos trilhos. Demitirão Tombini? Quem seria o preferido de Mantega? É esperar para ver.

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