Imprudência do Banco Central mina sua credibilidade
A surpreendente redução da taxa de juros pelo Banco Central danificou, de uma tacada, a credibilidade duramente conquistada em quase vinte anos de paciente construção da imagem da instituição. Seu comunicado encheu duas páginas. Bancos Centrais, como era o nosso até aqui, costumam informar suas decisões em apenas um dois parágrafos. Para que tanto verbo? Resposta: para justificar o injustificável, isto é, a decisão teve motivação política e resultou de pressões da presidente da República, do ministro da Fazenda e de outros membros do governo.
Tecnicamente, o cenário justificaria aumento da Selic: mercado de trabalho aquecido, acordos salariais acima da inflação e da produtividade, comércio vendendo bem, crédito ainda em expansão, câmbio ligeiramente depreciado, inflação de serviços em 12 meses na casa de 9%. Dado, contudo, a crise internacional, justificava-se uma pausa para uma avaliação na próxima reunião do Copom. Se a crise se agravasse e se instalasse uma tendência desinflacionária na economia mundial, o BC baixaria os juros. Acontece que o cenário não é o de repetição da crise de 2008, mas o de um longo período de baixo crescimento. Neste caso, não se instalaria a tendência desinflacionária esperada pelo BC.
Ao decidir contra a corrente unânime dos analistas, o BC criou enormes incertezas. Perdeu a capacidade de coordenar expectativas, um dos aspectos mais relevantes do regime de metas de inflação. Ninguém sabe agora para onde ele vai, se ainda existe meta de inflação ou se agora o governo prioriza o crescimento, em detrimento do controle inflacionário. O que se percebe claramente é a perda de sua autonomia e a transferência das decisões de política monetária para o Ministério da Fazenda ou para o Palácio do Planalto.
O BC confrontou uma unanimidade, mas criou outra. Todos os analistas consultados pela Agência Estado, no serviço Broadcast, afirmaram que o Copom errou e por isso minou sua credibilidade e autonomia.
Já se diz que a meta de inflação foi substituída pelo nível de incômodo do governo com o comportamento dos preços. Sua meta agora é o crescimento. O difícil será advinhar qual será o nível de desconforto 7%, 8% ou um pouco mais?
É muito difícil que a inflação fuja do controle, pois isso seria fatal para a popularidade da presidente. O problema será saber em que nível de inflação e a que custo será revertida a imprudência do BC e do governo.