As medidas de intervenção no câmbio continuam ineficazes
Três semanas após as medidas de intervenção do governo no mercado cambial, nada de extraordinário aconteceu. Como vários analistas assinalaram, inclusive este escriba, tais medidas são ineficazes para promover a esperada depreciação cambial. Em contrapartida, lançaram incertezas, aumentaram custos de transação e criaram o risco de novas ações atabalhoadas.
No dia do anúncio das medidas, 27/7/2011, o dólar estava cotado a R$ 1,55. Logo em seguida, começou a subir, dando a impressão de que elas funcionariam. Em 8/8, o dia do pânico nos mercados internacionais, o dólar bateu em R$ 1,62. Sucede que isso teve a ver essencialmente com a valorização do dólar frente a outras moedas e não com a intervenção do governo.
De fato, como sempre ocorre nesses momentos, os investidores procuram o porto seguro do dólar, que se valoriza. O índice VIX, que mede a volatilidade das opções nos mercados futuros de Chicago, costuma ser de 15 em momentos de normalidade. Começou a subir nos dias anteriores ao pânico e chegou a 48 em 8/8. Agora, está em 20, o que ainda sinaliza tempos de alto risco. Talvez por isso, no momento em que escrevo esta nota o dólar está cotado a R$ 1,58, três centavos acima da cotação de 21,7. A distância entre a normalidade e o índice atual explica boa parte, se não tudo, da valorização do dólar nas últimas três semanas.
O ministro Guido Mantega assegurou que suas medidas atacariam o que ele supõe seja a especulação causadora da valorização do real. Na sessão da Câmara do último dia 9/8, de que participei com ele e o ministro Aloísio Mercadante, Mantega afirmou que as críticas (como as minhas) eram um sinal de que as medidas estavam funcionando. Até aqui não é o que está acontecendo.
Além de não funcionarem, as medidas criaram novos e desnecessários problemas. Ficou mais caro e em alguns casos inviável para muitos exportadores se protegerem das variações da taxa de câmbio, o que os expõe a riscos injustificáveis. A BM&F Bovespa e a Cetip, que não foram consultadas, continuam afirmando que é impossível operacionalizar a cobrança do IOF nos derivativos. Não há sistemas que permitam consolidar as operações de cada uma das empresas participantes e a partir daí efetuar o recolhimento. Os sistemas das duas entidades não se “falam”, o que agrava a já impossível implementação das medidas. E se o governo resolver fixar as margens de garantias nos mercados futuros, como autoriza a medida provisória de 21,7, uma ação sem precedentes no Brasil e no mundo, as incertezas explodirão.
Segundo dizem essas duas entidades, as autoridades têm feito “cara de paisagem” diante das informações que dela recebem sobre os ditos problemas operacionais. A reação do ministro da Fazenda foi incompatível com a seriedade da situação e da relevância de seu cargo. Em lugar de atender pedido dos jornalistas para reagir à reclamação, S.Exa. limitou-se a por uns óculos escuros e a girar a cabeça como quem olhava uma paisagem. Pode?