Os mercados exageraram o mau humor
Continuo achando que não há razão para duvidar da solvência do Tesouro dos Estados Unidos, apesar do rebaixamento de sua classificação de risco pela Standard and Poor’s. Como sustentei na nota de ontem, os papéis públicos federais americanos permanecem um porto seguro. Para os investidores que precisam deter ativos desse tipo, não há melhor alternativa. E mesmo que todos os títulos fossem rebaixados à classificação AA+, atribuído pela S&P aos papéis americanos, estes se tornariam o padrão de menor risco.
E por que, apesar disso, as bolsas de valores despencaram no mundo inteiro? Uma razão seria uma forte aversão ao risco, que já se vinha formando há alguns dias, e foi acentuado com o rebaixamento. Na verdade, o que justificaria o mau homor dos mercados seria a menor expectativa de crescimento da economia dos países desenvolvidos e os riscos da dívida soberana de países da Zona do Euro. Provavelmente, a reação excessiva dos mercados acionários ao rebaixamento foi intensificado por decisões de “stop loss”. Investidores que tinham atingido seu limite de perdas venderam suas posições, amplificando o movimento de baixa.
Curiosa e ironicamente, muitos investidores que venderam suas posições em ações migraram para o dólar e para os títulos do Tesouro americano. A moeda americana se fortaleceu perante todas as transacionadas nos mercados de câmbio e os títulos do Tesouro se valorizaram, reduzindo sua taxa de juros. Ficou provado que não há ativos mais seguros.
É difícil dizer o que vai acontecer quando os mercados são tomados de pânico, como parece ter sido o caso hoje. A irracionalidade prevalece. Mas, se é verdade que os papéis públicos americanos continuam um porto seguro, então os mercados acionários tendem a se recuperar, estabilizando-se em patamar que reflita uma nova realidade, qual seja a de menor crescimento da economia dos países ricos, talvez uma nova recessão, e não o risco de solvência do Tesouro americano.