É baixo o risco decorrente do rebaixamento da dívida pública americana
Faço estes comentários no final da tarde do domingo, dois dias depois do rebaixamento da classificação de risco dos títulos públicos americanos pela Standard & Poor’s. O mercado de Israel, o único a funcionar hoje, caiu mais de 6%. O mesmo acontecerá na Ásia e nos mercados do Ocidente? Aparentemente, não. Inexistem razões sólidas para por em dúvida a solvência dos Estados Unidos. A batalha pela elevação do limite da sua dívida refletiu mais um problema político em Washington do que incapacidade financeira do Tesouro.
É verdade que muitos investidores institucionais precisam manter a totalidade ou parte de suas aplicações em papéis de classificação AAA. Falou-se que o rebaixamento para AA+ os faria desfazer-se dos papéis americanos, provocando uma venda maciça e a correspondente turbulência nos mercados. Acontece que as duas outras principais agências mantiveram sua classificação. Assim, para todos os efeitos, os títulos continuam classificados como AAA.
Muitos lembraram que os bancos seriam obrigados a reajustar seus portfólios de papéis públicos americanos, o que poderia, caso a taxa de juros subisse, reduzir sua base de capital, acarretando contração do crédito. Isso criaria novas dificuldades para uma economia frágil. Ocorre que o Federal Reserve, pelas mesmas razões acima, já declarou que não há necessidade desse ajustamento.
Não dá para imaginar que os investidores corram para vender os papéis americanos. Não há alternativa e por isso tenderão a mantê-los em suas carteiras. Suponha, para exagerar, que todos procurassem os papéis do Tesouro da Suiça, que continua com a classificação máxima, enquanto o país tem ficado à margem dos problemas de outras regiões da Europa. Seria como transferir um oceano para um riacho. Não funcionaria. Em resumo, o rebaixamento dificilmente seria considerado como piora do risco. O Japão sofreu um rebaixamento recentemente e nem por isso os investidores deixaram de comprar os seus papéis públicos.
Certo, se outra agência rebaixar os Estados Unidos a situação se complicará dramaticamente. Além dos efeitos nos investidores institucionais e nos bancos, a desclassificação muito provavelmente levaria as agências a rebaixar a classificação de países da Europa. Por que a Bélgica, por exemplo, se manteria AAA quando os Estados Unidos são rebaixados para AA+?
Por tudo isso, pode-se concluir que se houver algum nervosismo nesta segunda-feira, tenderá a ser passageiro. Se permanente, terá mais a ver com o ajuste do mercado acionário às expectativas de menor crescimento mundial do que a temores de insolvência dos Estados Unidos.