Mantega contribui para a valorização cambial

Existe uma regra de ouro sobre entrevistas de um ministro da Fazenda: não falar em câmbio. O nosso ministro Guido Mantega parece pensar o contrário, ou seja, falar sempre.

Nos anos 1970, a Inglaterra teve que pedir o apoio do FMI. Nessa época, o regime era de câmbio fixo, o que permitia ao governo fixar a respectiva taxa. Na crise, estava o ministro da Fazenda (o Chancellor of the Exchequer) dando uma entrevista quando um repórter o surpreendeu com um pergunta sobre rumores de desvalorização cambial. “Não haverá”, foi a sonora resposta do ministro.

Logo em seguida, veio da desvalorização. Alguém entrou na justiça contra o governo, alegando prejuízos por ter acreditado na palavra do ministro. A Justiça negou provimento à ação. Motivo: não poderia ter sido outra a resposta.

Mantega não hesita em falar sobre câmbio. Desde muitos meses, ele vem dizendo quase cotidianamente que vai tomar medidas para conter a valorização cambial. Diante disso, qual deve ser a atitude de quem está pensando em realizar um investimento no Brasil ou fazer uma aplicação no nosso mercado financeiro? Antecipar a entrada dos recursos para evitar o custo da suposta medida.

Essa é uma das explicações para a mudança brutal no comportamento dos fluxos cambiais. De janeiro a junho, entraram liquidadamente USD 39,8 bilhões, segundo o Banco Central. No mesmo período do ano passado, esse valor havia sido de apenas USD 3,3 bilhões. O fluxo no primeiro semestre superou o de todo o ano passado (USD 24,3 bilhões). Mais dinheiro entrando, mais pressão para valorizar o câmbio.

Ministro da Fazenda fala de câmbio quando tem uma medida concreta a anunciar. E olhe lá. Às vezes é melhor deixar a tarefa a cargo do Banco Central, que tem mais informação e experiência no assunto e pode responder melhor às demandas de informações adicionais dos jornalistas.

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