O Peru pode vencer a barreira do populismo

Ollanta Humala, o novo presidente do Peru, atemorizava os mercados em eleições passadas. Com um discurso populista e socialista à la Hugo Chávez, da Venezuela, Ollanta flertava com o desastre econômico, social e político. Os avanços das duas últimas décadas, principalmente a conquista da estabilidade macroeconômica, que fizeram do Peru uma das economias de maior crescimento da América Latina, podiam ser perdidos. O país retornaria aos tempos de instabilidade política e econômica.

Ollanta podia ganhar as eleições presidenciais se a centro-direita peruano se dividisse. Dado que ainda são altos os níveis de pobreza e as desiguldades de renda, um discurso populista poderia arrebanhar votos dos segmentos menos favorecidos e menos informados da sociedade, permitindo que Ollanta ganhasse as eleições ou disputasse o segundo turno com chances de vitória. E foi o que aconteceu este ano. Três candidatos da centro-direita dividiram seus votos. O segundo turno se deu entre dois políticos tidos como problemáticos: Ollanta e Keiko Fugimori, a filha do ex-presidente Alberto Fujimori, condenado por corrupção e violação de direitos humanos. Na declaração pessimista do escritor peruano Vargas Llosa, os peruanos iriam escolher entre a aids e o câncer. Vargas Llosa terminou apoiando Ollanta, inclusive porque este se comprometeu com ideias como a de proteção aos direitos de propriedade e aos contratos, fundamentais para o desenvolvimento capitalista.

Ao sentir que eram crescentes suas chances de vitória, Ollanta adotou atitudes semelhantes às de Lula em 2002. Fez até uma “carta ao povo peruano”, inspirada em documento semelhante que Lula lançou em junho de 2002. Ao se eleger, reiterou juras à responsabilidade na gestão macroeconômica. Declarou que manteria a autonomia operacional do Banco Central. Sua primeira viagem internacional teve o Brasil como primeira parada, onde ele repetiu os compromissos com a normalidade econômica.

Agora, Ollanta acaba de divulgar seu ministério. Salomon Lerner Ghitis, empresário que coordenou sua campanha, será o primeiro ministro. Luís Miguel Castilla será o ministro da Fazenda. Castilla, de 42 anos, é um economista ortodoxo, que exerceu o cargo de vice-ministro das Finanças no governo anterior, de Alan Garcia. Obteve o doutorado em Economia na Universidade Johns Hopkins em 2001. Estudou na Universidade Harvard e na Universidade McGill.

Os sinais de amadurecimento de Ollanta são claros. Seus compromissos com a uma política econômica responsável estão sendo comprovados. O novo presidente peruano dificilmente promoverá a ruptura que se temia. Seu país, rico de recursos minerais e de pesca, pode continuar sua trajetória de prosperidade, deixando para trás, talvez para sempre, o populsimo desastroso do passado.

Chávez já não é o mentor político de Ollanta, que se livrou dos assessores de esquerda, inclusive os que o ajudaram na campanha eleitoral. O Peru pode ser mais um país latino-americano a se livrar do populismo inconsequente e desastroso.

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