O PIB de Lula e a tola comparação com o de FHC

A divulgação do crescimento do PIB de 2010, de 7,5%, foi comemorada por membros do governo, caso do ministro da Fazenda, como uma realização sem par. De fato, é a maior taxa de expansão da economia desde 1986. Trata-se de um excelente resultado. Acontece que as comemorações desconsideram duas circunstâncias que podem deslustrar um pouco tal desempenho. Primeiro, a comparação é feita com uma base deprimida. Em 2009, o PIB caiu 0,6%. Uma parte do crescimento representa, pois, mera recuperação. Não seria incorreto atribuir pelo menos metade do crescimento do PIB ao ano de 2009.

Em segundo lugar, grande parte da expansão reflete a política fiscal imoderada dos dois anos do governo Lula, particularmente no ano de 2009. Os efeitos da crise financeira de 2008 já haviam desaparecido no Brasil, mas o Ministério da Fazenda continuou pisando no acelerador dos gastos e na concessão de vultosos recursos do Tesouro para o BNDES aplicar em crédito subsidiado. Maiores gastos e mais crédito do BNDES impulsionaram a atividade econômica, resultando em um crescimento do PIB acima do seu potencial, que anda em torno de 4,5% a 5% ao ano. Daí os graves desequilíbrios que Dilma Rousseff herdou de seu antecessor: deterioração fiscal, aceleração excessiva das importações e, pior, inflação. A conta chegou e agora é preciso cortar gastos e aumentar juros para evitar que a inflação fuja do controle. Resultado, uma forte desaceleração da economia, que este ano deve crescer, segundo estimativas da Tendências Consultoria, apenas 3,9%.

É compreensível que políticos aliados e membros do governo tenham feito loas ao crescimento do PIB, incluindo ufanistas projeções de ganhos de posição do Brasil na comparação com outros países. O que não faz o menor sentido é comparar o PIB da era Lula com a do PIB dos tempos de FHC, como fez uma consultoria de São Paulo, que se sabe integrada por economistas com capacidade de fazer analises sóbrias e bem fundamentadas. Pelos cálculos da consultoria, a média de crescimento anual do PIB de Lula foi de 4% enquanto a do PIB de FHC ficou em somente 2,3%. Ocorre que se comparou laranja com banana. São duas situações distintas, que ocorreram sob ambientes internacionais radicalmente diferentes. A era FHC foi a de plantio. A de Lula, a de colheita. Sob Lula, amadureceram os efeitos das reformas do período FHC, caracterizado por muitas crises, a maioria oriunda do exterior. No governo Lula, viveu-se a “great moderation”, como se classifica um dos períodos de maior crescimento da economia mundial. A comparação não passa, pois, de uma tolice.

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