Dilma emite sinais positivos

Em suas duas primeiras semanas, a nova presidente merece elogios pelo comportamento. Ela está reintroduzindo a liturgia do cargo. Não dá entrevistas toda hora, não cruza o país todo dia fazendo discursos, soltando gracejos, falando mal dos antecessores. Ela parece governar. O chefe do governo precisa ser exemplo e símbolo. O comedimento é parte do processo. Deve viajar somente quando justificável, principalmente por razões de Estado. Sua primeira saída da Capital hoje, para visitar o Rio e sobrevoar as regiões atingidas pelas chuvas, atendeu a esse requisito. Em todos os países, o lider maior deve fazer-se presente nas tragédias. O povo precisa vê-lo prestando solidariedade às vítimas e sinalizando providências.

Dilma sinalizou que não vai tentar uma reforma tributária ampla. Isso pode decepcionar, mas está correto. Não há como fazer esta reforma neste momento, menos ainda reduzir a carga tributária, que exige complexas mudanças constitucionais e difíceis ou impossíveis negociações com governadores. Melhor tentar mudanças viáveis, que simplificam, reduzem burocracia e melhoram a eficiência. A experiência mostra que o Congresso sempre pode piorar uma reforma tributária ampla, como se viu com o projeto em tramitação. Se tentar o máximo, pode ficar sem o mínimo viável.

Diz-se que que ela vai criar conselhos de gestão, nos quais serão examinados casos concretos, metas, projetos e por aí afora. Outro bom sinal. Melhor ainda se extinguir o “Conselhão” do Lula, que servia apenas para enaltecer o presidente e o governo. O órgão nunca exerceu função relevante, não gerou nenhuma ideia aproveitável, não inspirou qualquer medida. Baseou-se em experiências europeias, em contextos políticos, institucionais e culturais radicalmente distintos da nossa realidade.

Espera-se que Dilma anuncie amanhã um programa fiscal duro. Se a notícia se confirmar e se for apresentado um plano fiscal com começo, meio e fim, devemos comemorar. Lula nunca fez um discurso em prol da austeridade fiscal (FHC fez mais de um). O plano restauraria a credibilidade fiscal do governo, dramaticamente abalada pela injustificável expansão de gastos correntes, particularmente dos dois últimos anos de Lula, e pelo uso de maquiagens e outros subterfúgios para fazer crer que o governo cumpria metas de superávit primário.

É ver para crer, mas os sinais são supreendentemente positivos.

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