Política
1 de jul de 2015 , 22h05Riscos para o PT em 2018
O PT certamente deseja ganhar de novo as eleições presidenciais com a provável candidatura de Lula em 2018. Na estratégia, estaria uma guinada à esquerda. É prova da dificuldade de evoluir na linha de partidos socialistas que aderiram à democracia e à economia de mercado. O PT valoriza a democracia, mas defende, paradoxalmente, o “controle social da mídia”, que violaria o princípio da liberdade de expressão. Várias correntes professam um anticapitalismo pueril e retrógrado, como se viu no recente congresso em Salvador.
No século XX, partidos europeus de esquerda abandonaram o socialismo radical e migraram para o centro do espectro político e econômico. O destaque nas décadas de 80 e 90 coube, respectivamente, ao Partido Socialista Operário Espanhol e ao Partido Trabalhista britânico. Sob a liderança de Felipe González e Tony Blair, essas duas siglas abandonaram o dirigismo econômico e cláusulas que negavam o direito de propriedade. Ambas adotaram políticas econômicas responsáveis e a privatização de empresas estatais.
O PT sinalizou que seguiria a mesma trilha. Em 2002, a Carta ao Povo Brasileiro rifou teses econômicas tresloucadas do partido. Lula sugeria que, caso eleito, manteria a política econômica de FHC, o que se confirmou. Com Palocci no Ministério da Fazenda e Meirelles no Banco Central, foram adotadas sensatas e bem-sucedidas políticas fiscal e monetária. Visava-se a preservar o Plano Real, que o PT combatera.
Lula passou a ser visto como a encarnação brasileira de González e Blair. Viabilizadas por aumento do potencial de crescimento e da arrecadação, políticas que reduziram a pobreza e as desigualdades contribuíram para forjar essa imagem. Era o efeito da gestão econômica, mas também dos ganhos de produtividade gestados em governos anteriores e da emergência da China como o maior importador de commodities, o que permitiu impulsionar exportações e acumular reservas internacionais.
O PT não era, contudo, uma réplica da esquerda espanhola e britânica. A Carta ao Povo Brasileiro foi uma cortina pragmática para encobrir antigas e resistentes visões. A caminhada ao centro visava apenas a evitar uma quarta derrota eleitoral. Com a saída de Palocci em 2006, o passado ressurgiu. A intervenção na economia em 2009, durante a crise internacional – justificada e coroada de êxito –, foi a senha para restabelecer o velho ideário, cuja síntese era a malfadada Nova Matriz Macroeconômica. Dilma aprofundou os novos rumos. Deu no que deu.
O ajuste atualmente em curso objetiva evitar o colapso da economia, mas a volta de um nível razoável de crescimento depende da restauração da confiança e, sobretudo, de ganhos de produtividade decorrentes de reformas estruturais, pouco prováveis. A mudança pode nos salvar de uma catástrofe, mas infelizmente contribui para tirar da sombra obsoletos ideais. A condenação ao trabalho do ministro da Fazenda contém críticas ácidas ao ajuste fiscal, como se este fosse a causa da recessão, e não o remédio para combatê-la.
O congresso de Salvador foi o palco para revelar ideias do além. Não fosse a intervenção de Lula, a declaração final teria sido um amontoado de sandices. Poderia incluir a condenação da política econômica e a defesa da volta da CPMF. Provavelmente também mencionaria a tributação de grandes fortunas, um imposto ruim, de baixo potencial de arrecadação e que não deu certo em canto algum. Uma das teses, intitulada “Abaixo a política de austeridade”, tirou do túmulo propostas de anulação das privatizações e de calote na dívida externa.
O congresso foi permeado por velhas visões e pela defesa de uma nova aliança para 2018, composta de partidos de esquerda, ou seja, sem o PMDB e outras agremiações tidas como conservadoras. Seria a saída para a vitória de Lula nas próximas eleições presidenciais. Como lembrou Dora Kramer, o PT tentaria retornar aos tempos em que sofria seguidas derrotas eleitorais. Ademais, a estratégia ocorreria em ambiente de declínio de filiações ao partido, da corrosão de sua imagem por corrupção e má gestão, e da queda da aura de líder imbatível que Lula conquistou por certo tempo. A história mostra que pode não funcionar.