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Política

16 de set de 2007 , 15h11

Quem estabilizou a economia

Quem estabilizou a economia

Para 67% dos brasileiros, Lula é o maior responsável pela estabilização da economia, segundo pesquisa Estado/Ipsos. Quem tem o mínimo de informação sabe que essa percepção é equivocada, mas é justo reconhecer que o Presidente teve seu papel, pois evitou que a estabilidade fosse para o brejo. Não lhe faltaram ademais competência política para vender a ideia nem desfaçatez para se apropriar do esforço de outros.

A estabilização foi uma longa e difícil caminhada até o Plano Real, cuja engenhosa concepção contribuiu decisivamente para o êxito da empreitada. O plano se beneficiou ainda de condições melhores de que as de seus antecessores: economia mais aberta, canais de importação funcionando e acesso a recursos externos.

De fato, as importações resolveram o problema maior dos anteriores planos de congelamento. A queda súbita da inflação estancava a corrosão da renda dos menos favorecidos, que iam às compras, ao mesmo tempo em que o crédito se expandia, gerando aumento adicional da demanda.

Não era possível elevar a oferta doméstica rapidamente nem se dispunha de condições macroeconômicas – particularmente fiscais – para reduzir muito a demanda. O desequilíbrio provocava escassez, as prateleiras se esvaziavam e surgiam pressões inflacionárias insuperáveis. A tentativa fracassava. As importações resolveram esse problema no Plano Real.

O plano também se beneficiou do aprendizado dos anteriores sobre troca de moeda, tratamento dos contratos e salários, e normas para o sistema financeiro. A respectiva medida provisória repete vários dos artigos que compunham instrumentos legais semelhantes.

Seria, pois, um despropósito admitir que a estabilidade é obra do governo Lula, como pensa a maioria entretida pelo palavreado do Presidente, cuja repetição exaustiva de idéias fixas convence os menos informados de que “nunca antes na história deste País” certos eventos aconteceram. Mais, com a colaboração de economistas do PT e simpatizantes, vendeu-se a ideia de que Lula recebera uma “herança maldita”.

Na verdade, esses economistas previram o fracasso do Plano Real e assim contribuíram para a derrota de Lula nas eleições de 1994. Na época, o PT atacou a política econômica que viabilizou a estabilidade. Até hoje não percebe, por razões ideológicas, o papel das privatizações na elevação do bem-estar. Na campanha de 2002 e durante o primeiro mandato de Lula, o partido lutou com fervor para mudar os rumos.

É por aí que se deve dar crédito a Lula. Na campanha de 2002, ele teve a coragem de apresentar a Carta ao Povo Brasileiro, na qual jogou fora a plataforma econômica do partido e sinalizou que, se eleito, manteria a gestão macroeconômica responsável de FHC. Uma vez no poder, convidou um banqueiro para presidir o Banco Central, reforçou a autonomia da instituição e ampliou o superávit primário. Se tivesse cedido às pressões do PT teria fracassado em preservar a estabilidade econômica.

Parte da desconstrução do papel de FHC (apenas 7% crêem que ele contribuiu para a estabilidade) deve ser debitada ao PSDB. O partido não aprovou resoluções com críticas à política econômica, como o PT, mas não a apoiou abertamente. Os tucanos não viam com bons olhos o trabalho da equipe econômica nem foram entusiastas da venda de empresas estatais. O próprio FHC se diz hoje contra a autonomia operacional do BC e deixou claro, em entrevista à revista Piauí, que não acreditava na privatização, realizando-a por não ter alternativa, diante de pressões dos mercados.

Lula manteve e melhorou a política econômica de seu antecessor, ainda que esteja criando problemas fiscais para os próximos governos (aí, sim, “herança maldita”). O Presidente colhe os frutos políticos dessa decisão e não se cansa de se creditar como fonte única dos êxitos. A estratégia tem funcionado, como se viu.

Enquanto isso, os tucanos mantêm a crítica à mesma política econômica e demandam ações voluntaristas para baixar os juros e desvalorizar a taxa de câmbio. Parecem envergonhados de assumir o que se fez à época em que estavam no poder. Trata-se, como disse com propriedade a cientista política Lourdes Sola, de um déficit de comunicação, que a cada dia se afigura irremediável. Lula tomou-lhes a bandeira, se comunica melhor e merece assim pelo menos uma parte dos louros.

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