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Política

8 de set de 2010 , 15h13

Oposição: não plantou, não colheu

Oposição: não plantou, não colheu

José Serra ainda pode virar o jogo e vencer as eleições presidenciais, mas sua situação é difícil. A julgar pelas pesquisas de opinião, a maioria do eleitorado já cristalizou a preferência por Dilma Rousseff, que pode vencer no primeiro turno.

Quatro causas explicam o provável êxito de Dilma. Primeira, o crescimento da renda, do emprego e do crédito, que determinam os níveis de consumo. O ‘feel good factor”, isto é, “a sensação de estar bem com a vida” induz ao voto pela continuidade.

Segunda, o apoio de um presidente carismático e bem avaliado. Lula associa, de forma inédita, as características de líder de massas com a responsabilidade na gestão econômica. Evitou a inflação alta, que corrói renda e popularidade.

Terceira, o uso da máquina pública por Lula para nutrir e impulsionar sua escolha pessoal, Dilma, expondo-a incessantemente em inaugurações e cerimônias. Uma façanha. Nunca alguém politicamente inexperiente virara nome nacional.

Quarta e muito relevante, a omissão da oposição. Sob o quase silêncio do PSDB, Lula se dedicou a desconstruir sistematicamente as realizações de Fernando Henrique. É talvez a ação de marketing político mais bem sucedida da história.

À la Goebbles, o ministro da Propaganda de Hitler, Lula martelou a idéia de que é o marco zero. Contraditório, aliou-se a quem antes escarnecia, enquanto dizia que só tivemos maus governos (os deles) nos últimos cinquenta anos.

Lula repete o mantra da herança maldita. Dilma vai por aí. “Quando chegamos ao governo, a inflação estava fora de controle”, disse ela sem ligar para o teste da história. Tiririca comprou a mentira. “Respeito muito o Lula. Ele pegou o país arrasado e melhorou pra caramba”, afirmou.

A campanha de Dilma diz que “Lula mudou o país”, embora ele seja mais continuidade do que revolução, o que lhe permitiu colher os frutos da semeadura do passado. A inflação de 2002, ela sabe, veio do medo de adoção das ideias econômicas do PT.

Como lembrou Marcos Lisboa, assessor da Fazenda no primeiro período de governo de Lula, “não se deve medir um governo ou uma gestão pelos resultados obtidos durante sua ocorrência e sim por seus impactos no longo prazo, pelos resultados que são verificados nos anos que se seguem ao seu término.”

Para ele, “os ciclos longos de crescimento econômico, digamos com mais de oito ou dez anos, se iniciam com ganhos de produtividade.” E prossegue: “o ciclo se exaure com o aproveitamento dos ganhos iniciais de produtividade”. Haverá continuidade “se novas reformas, que levem a novos aumentos da produtividade, forem realizadas.”

Lula não é o primeiro a surfar em ondas criadas por ações de outros. Bill Clinton se beneficiou das reformas de Ronald Reagan. Os trabalhistas britânicos viveram o crescimento construído pelos conservadores, sob a liderança de Margaret Thatcher. A diferença é que não se apagava o passado, à moda de Stalin.

No Brasil, há três evidentes períodos de intensas reformas institucionais: o de Vargas, o de Castello Branco e o de Fernando Henrique. Todos desaguaram em ganhos de produtividade e crescimento em governos posteriores. No de FHC, os efeitos na produtividade começaram a aparecer em 2006, após os ajustes pós pânico de 2002.

Mudanças já ocorriam antes, como a modernização das finanças públicas e a abertura da economia, mas se aceleraram com FHC: privatização das estatais – com destaque para as telecomunicações –, extinção de monopólios públicos, desregulação de setores econômicos e menores restrições ao investimento estrangeiro.

Segmentos do PSDB pouco simpáticos a tais avanços e à ação do Banco Central contentavam-se em ver Antônio Palocci reconhecer as realizações de FHC. Assim, Lula se apropriou facilmente da paternidade das mudanças, sob os olhos complacentes da oposição. Agora não dá para colher o que não se plantou.

O desafio da oposição, caso perca, será o de se renovar e resgatar seus feitos. Precisará mostrar que a eventual redução do dinamismo da economia decorrerá da ausência de reformas, do aparelhamento do estado e da má gestão. Terá que combater ideias de “controle social” da imprensa e outras ameaças à democracia e ao estado de direito.

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