O PT e os partidos comunistas
Cuba e China têm pouco a ensinar aos petistas
O PT tem estreitado relações com os partidos comunistas de Cuba e da China. Gleisi Hoffmann, sua presidente, visitou recentemente os dois países. Em Havana, assinou um acordo de intercâmbio para “troca de experiências e cooperação”. Em Pequim, a convite do Partido Comunista, elogiou o modelo chinês de estatais, que pode trazer “ensinamentos para o Brasil”, e realçou sucesso no combate à pobreza e à fome. Elogiou a “democracia efetiva” da China e afirmou que “os Estados Unidos atravessam uma imensa crise”, que seria reflexo do “declínio da hegemonia e da influência” do país. Será?
O PT tem pouco ou nada a aprender com partidos comunistas. Nunca precisou deles para pavimentar sua bem-sucedida trajetória política. Ascendeu ao poder pelo voto popular, e não por uma revolução socialista. Já o discurso de Gleisi peca ao referir-se à democracia na China. Lá vigora um regime autoritário que não admite liberdade de opinião. Dissidentes não são tolerados. Podem ser punidos por isso.
A história das estatais chinesas difere da passada pelas brasileiras. Aqui, elas surgiram para suprir falhas de mercado. Nos anos iniciais do regime comunista chinês, as estatais tiveram papel distinto das nossas. Suas atribuições incluíam a gestão administrativa e a condução de variada gama de responsabilidades sociais nas áreas de educação, saúde, serviços assistenciais e previdência social.
Dos anos 1980 em diante, com a abertura promovida por Deng Xiaoping, as estatais passaram a competir com empresas do setor privado, o que se tornou inviável para a maioria delas. Muitas foram fechadas ou vendidas. As atuais estatais gigantescas, surgidas do processo de transformação econômica, exercem atividades estratégicas. Sua eventual privatização não está nos planos do governo chinês. Difícil imaginar que existam empresários em número suficiente para assumir seu controle.
Também o êxito chinês no combate à pobreza e à fome tem origem completamente distinta do que ocorreu no Brasil e seus programas sociais. Aqui, ideias como a do Bolsa Família, foram implementadas mediante ampliação de gastos públicos. Na China, isso aconteceu como consequência da abertura da economia, da entrada do país na OMC e do decorrente aumento da sua inserção no comércio global. Tudo isso contribuiu para que 800 milhões de pessoas deixassem a pobreza, um feito sem paralelo no planeta. Além do mais, o presidente Xi Jinping tem-se manifestado contra programas de transferência de renda para as camadas menos favorecidas, argumentando que eles geram acomodação prejudicial ao crescimento do país.
Estudos recentes mostram a improcedência da ideia de declínio da hegemonia e da influência americanas. Essa falsa tese, esposada por Xi, tem inspirado a determinação de ampliar a competitividade da China e assegurar sua ascensão ao posto de maior potência mundial.
As discutíveis posições de Gleisi podem decorrer do seu entusiasmo com a China e com a “democracia efetiva” do país.
Publicado em VEJA de 10 de maio de 2024, edição nº 2892
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