COLUNAS

12 de fev de 2008 , 11h52

O paradoxo de 2009: risco de fracasso em meio ao sucesso

O paradoxo de 2009: risco de fracasso em meio ao sucesso

O paradoxo de 2009: risco de fracasso em meio ao sucesso
Mailson da Nóbrega
Poucos duvidam de que 2009 será difícil. A crise vai cobrar seu preço. O PIB pode crescer apenas 2% a 3% (há quem fale em zero), em comparação com quase 6% em 2008. Mesmo assim, dá para falar em sucesso, se este for medido pela resistência do Brasil à crise. Ao mesmo tempo, há o risco de fracasso por erros do governo.
O país tem tudo para sair bem da tormenta. É o prêmio pelos avanços institucionais de muitos anos (embora o governo teime em reivindicar tudo para si). Nas outras crises, quebramos; agora, o custo é crescer menos. A inflação explodiu; agora vai diminuir. A taxa de juros subiu; agora vai cair. E por aí afora.
Um dos alicerces para agüentar o vendaval é um sistema financeiro sólido (viva o Proer!). Lá fora, a dificuldade está na fragilidade dos bancos. A gestão macroeconômica é competente (vivam as metas de inflação, o câmbio flutuante e os superávits primários!). Com reservas internacionais de mais de US$ 200 bilhões, o setor público tem mais caixa do que dívida externa (cadê os petistas que queriam a moratória?).
Essa realidade é reconhecida no exterior. Daí o grau de investimento e a operação de swap (troca) de moedas entre o Federal Reserve e o Banco Central – BC. Quando a crise se dissipar, ficará claro que dispomos de instituições econômicas mais fortes do que se pensava. Voltaremos a crescer mais a partir de 2010.
Sairemos da crise com novo status na governança global. As discussões sobre a economia mundial deixarão de estar restritas ao G-7. Haverá mais países, como se viu na reunião do G-20 em Washington. Pergunta-se se a Argentina deve continuar no grupo ou se a Espanha pode ficar fora, mas ninguém duvida de que o Brasil está dentro.
Em 2009, a situação da economia nos Estados Unidos, na Europa e no Japão pode ser pior do que se pensa. A China cresceria muito menos do que os 8,5% previstos pelo FMI. Os preços das commodities cairiam ainda mais, impondo maior ônus ao Brasil. Nada podemos fazer, mas é provável que esse pessimismo seja exagerado.
No que nos cabe, a reação tem sido satisfatória, em especial as medidas do BC. Há impaciência com seus resultados. Ajustes podem ser necessários, mas é preciso esperar. Já o pacote fiscal fez mais barulho do que merecia. A bondade no Imposto de Renda beneficia um grupo relativamente pequeno e complicou o número de alíquotas. A maioria deve usar o dinheiro para poupar ou pagar dívidas, e não para consumir.
Piorou o ambiente hostil em que o BC opera. Demandas de queda rápida da taxa de juros (Selic) ficaram agressivas e deselegantes. Invoca-se a ação de bancos centrais no exterior, sem perceber que vivemos outra situação. No início de dezembro, fontes do governo vazaram informações (felizmente não confirmadas) dando conta de que o presidente retiraria a autonomia do BC se a Selic fosse mantida.
O governo reduz a arrecadação, reluta em cortar gastos de custeio e nada faz para melhorar o desempenho nos investimentos. É complacente com ações irresponsáveis no Congresso, como as que extinguem o fator previdenciário e reajustam aposentadorias. Apesar dos seus calamitosos efeitos fiscais, diz que aceitaria trocar o fator pelo aumento do prazo para a aposentadoria. Como a medida exige difícil emenda constitucional, o risco é perder o fator e não ganhar a mudança. Um desastre.
São maus sinais quando Lula enfrenta sua primeira grave crise econômica. Ele superou uma menor, a de 2003, oriunda do medo de guinada na economia. As indicações de Antonio Palocci para a Fazenda e Henrique Meirelles para o BC tranqüilizaram. Agora, teme-se que a provável queda de popularidade, derivada da desaceleração da economia, leve o governo a recorrer a mágicas e ações “desenvolvimentistas” inconseqüentes.
Se for assim, estariam sob risco a estabilidade e o grau de investimento. A economia entraria em recessão. Seria paradoxal. A reviravolta ocorreria no momento em que, mais uma vez, colhemos frutos das nossas transformações e da sensata decisão de Lula de manter a política econômica. Pelo que se viu desde 2003, é pouco provável que ele siga maus conselhos. Assim, dadas as circunstâncias, 2009 seria um sucesso.

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