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Economia

10 de dez de 2014 , 17h57

Novo mandato, nova equipe, mesmas dúvidas

Novo mandato, nova equipe, mesmas dúvidas

A grande maioria aplaudiu a escolha da nova equipe econômica – que tem boa reputação, sólida base intelectual e experiência –, mas há dúvidas se Dilma de fato mudou as visões econômicas adotadas no primeiro mandato.

O novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, sem desapreço pelos demais, concentrará as expectativas de sucesso. É rica sua trajetória, especialmente na Secretaria do Tesouro Nacional (2003-2006), que comandou com eficiência, firmeza e dignidade.

Recuperar a credibilidade da política econômica envolverá ações para desfazer e para fazer. No campo do desfazer, estão os equívocos e a má gestão que minaram a confiança do setor privado, reduziram a competitividade da indústria e causaram enormes danos à Petrobras, ao setor elétrico e aos produtores de etanol.

Será preciso abandonar o controle de preços na Petrobras, esquecer a fracassada nova matriz macroeconômica, restaurar a boa gestão macroeconômica, cumprir metas para a inflação, enterrar a contabilidade criativa nas contas fiscais, estancar a sangria de recursos do Tesouro em favor de bancos oficiais, rever desonerações que reduziram a receita sem resultados… A lista é bem longa.

No âmbito do fazer, espera-se um ajuste fiscal, pois a presidente se comprometeu com “o dever de casa”. O superávit primário (economia para pagar juros da dívida federal) deve ser robusto quanto baste para estabilizar ou diminuir a relação entre a dívida e o PIB. A piora da relação – o principal indicador de solvência do setor público – pode levar à perda do grau de investimento das agências de classificação de riscos. O financiamento externo ficaria mais caro e difícil. Cabe lembrar também as reformas, cuja condução dependerá do papel da equipe no diagnóstico e na estratégia.

Até aqui, estamos na parte fácil. O difícil é aprovar e manter as mudanças. O “desfazer” descontentará a velha esquerda e os petistas que apoiaram a equivocada política econômica. O “fazer” incomodará ministros e setores que dependem do orçamento e do crédito oficial. Com a recessão temporária e o aumento do desemprego – consequências naturais das mudanças –, parlamentares reclamarão do tratamento, pois entenderão que os benefícios são distantes e incertos. Os custos políticos serão altos.

Há exemplos de mudanças semelhantes que sucumbiram a pressões para seu abandono parcial ou total. Se não existe acordo inequívoco no governo sobre o programa, o ministro da Fazenda cede e se desmoraliza. Ou deixa o cargo. Aconteceu com Eugenio Gudin, ministro da Fazenda no governo Café Filho, o presidente que assumiu em 24 de agosto de 1954, após o trágico suicídio de Getúlio Vargas.

Na época, diante da crise, demandavam-se um gabinete ministerial de conciliação e um bom ministro da Fazenda. Gudin reunia, então, as melhores qualificações. Professor e autor consagrado, era o economista brasileiro mais conhecido no exterior e sabia o que fazer na economia. Seu plano de estabilização centrou-se no controle do crédito e no ajuste fiscal, o que incluía aumentar a arrecadação baseada na exportação de café.

Menos de um mês depois da posse, Gudin foi aos Estados Unidos para reuniões no FMI e diálogo com a comunidade financeira. Foi muito aplaudido. O New York Times assinalou que ele era “o homem certo, no lugar certo, na hora certa”. Acontece que a chegada dos efeitos colaterais da política econômica fez surgir uma coalizão contra ele, principalmente de produtores de café. O ministro renunciou. Durou sete meses e dezoito dias no cargo.

É fácil prever que o futuro ministro da Fazenda enfrentará oposição semelhante, a começar pelo PT. Como fez na era Lula, é provável que o partido acione sua metralhadora verbal contra a política econômica. Já começou a criticar o novo ministro nas redes sociais. Outras pressões poderão ser esperadas quando aparecerem resultados temporariamente ruins na atividade econômica e no emprego.

Levy pode não reviver a situação de Gudin, mesmo porque as circunstâncias são outras. Para evitar que a história se repita, Dilma precisa abster-se de conhecidos hábitos, apoiar a equipe e revelar liderança para enfrentar grupos contrários aos bem-vindos novos rumos. Torçamos.

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