COLUNAS

Economia

16 de abr de 2014 , 19h10

A nova matriz macroeconômica fracassou

A nova matriz macroeconômica fracassou

Em 2012, o Ministério da Fazenda anunciou a nova matriz macroeconômica. Completava-se a reação, iniciada em 2009, à política econômica adotada por Lula em 2003, a mesma que ele havia recebido de FHC. No terceiro ano da novidade, o fracasso é inequívoco.

O PT tinha ideias estranhas, que iam de limites para o pagamento de juros da dívida pública a intervenções de toda ordem na economia. O medo da eleição de Lula em 2002 vinha dos problemas implícitos nessas ideias, no programa do partido e no seu título: “Uma ruptura necessária”. Mercados sabem precificar riscos, mas não incertezas.

Lula não mudou a política econômica, como se temia. Muito por causa disso, o crescimento econômico se acelerou e as políticas sociais se expandiram. Se ele tivesse adotado as ideias do PT, poderia ter mergulhado o país em uma crise que prejudicaria a economia, a geração de empregos e a viabilidade do Bolsa Família.

A direção do PT discordou da política econômica de Lula em vários documentos. Os mercados, ao contrário, acreditaram nela. A confiança no Brasil aumentou. Em 2008, ganhamos o grau de investimento.

A política econômica não foi inventada por FHC. Ele teve apenas o discernimento e a liderança para adotá-la. O chamado tripé macroeconômico – metas para a inflação, câmbio flutuante e austeridade fiscal – vigora em todos os países desenvolvidos e em grande número dos emergentes. Resulta de uma evolução histórica decorrente da prática da gestão de governos e de avanços da teoria econômica. O regime de metas para a inflação, o mais novo desses componentes, surgiu em 1990, na Nova Zelândia. Seu êxito ganhou seguidores.

Tem sido assim há pelo menos 500 anos. Na Europa do século XVI, a teoria e a prática recomendavam o mercantilismo, que atribuía a riqueza de uma nação ao estoque de ouro e prata. Quem não explorasse tais minérios deveria adotar medidas para aumentar exportações e diminuir importações. O saldo positivo era pago nesses metais preciosos. No século XVII, os fisiocratas franceses sustentavam que a agricultura era a única fonte de riqueza. Nenhuma dessas teorias resistiu ao teste do tempo.

No Brasil, nós nos demos conta de que não se combate inflação com controle de preços, que gastos públicos excessivos inibem o crescimento e que a política monetária pode estabilizar os preços. Penamos, mas com a teoria e a experiência aprendemos essas verdades simples.

A nova matriz macroeconômica gerou retrocessos. O Banco Central foi forçado a baixar os juros. O controle de preços voltou. A gestão fiscal foi vítima da contabilidade criativa, que escondia a exagerada expansão dos gastos. O mercado de câmbio sofreu intervenções para atender a visões de mundo que atribuíam à desvalorização cambial a fonte da competividade dos produtos exportáveis.

O ministro da Fazenda se vangloriou da guinada e adotou políticas de estímulo ao consumo na expectativa de despertar o instinto animal dos empresários, que investiriam para aumentar a oferta. Câmbio desvalorizado e juros baixos ampliariam a disposição de investir. A redução voluntarista das tarifas de energia elétrica elevaria a competividade e o investimento. Nada disso funcionou. O investimento depende do ambiente de negócios e de previsibilidade, que foram prejudicados pelo intervencionismo excessivo. A “matriz” colheu resultados distintos do imaginado. O investimento caiu de 19,5% do PIB, em 2010, para 18,4%, em 2013. A meta para a inflação, de 4,5%, nunca foi alcançada. A média de crescimento do período Dilma será de apenas 2%. A classificação de risco foi rebaixada.

O governo recuou. A taxa de juros (Selic) voltou a subir e já chegou a 11%. Era 10,75% quando Dilma assumiu. As intervenções no mercado de câmbio foram revistas. Anunciaram-se metas fiscais livres de malabarismos financeiros e da contabilidade criativa. Menos mal. Isso prova que o país dispõe de instituições que inibem a continuidade de ações populistas.

É possível reverter equívocos de gestão econômica, inclusive por quem os cometeu. Fica o custo, que é a perda de oportunidades. O atual fracasso poderia convencer o governo a restabelecer na sua plenitude o tripé macroeconômico. A “matriz” já era.

← Voltar