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Política

30 de abr de 2014 , 21h09

Não desanime

Não desanime

Muitos brasileiros estão desanimados. Perderam esperanças diante das más notícias. A economia desacelerou muito e cresce menos de 2%. A inflação ameaça furar o teto da meta, de 6,5%. Passamos a depender de capitais especulativos para financiar o crescente déficit externo. A gestão fiscal não é crível.

A Petrobras tem sido humilhada por denúncias de tráfico de influência e corrupção, pela malsucedida compra da refinaria de Pasadena, pelos enormes custos de sua utilização como instrumento de política econômica e industrial, e pela prisão de um ex-diretor.

O desânimo aumenta com pesquisas que sugerem a provável reeleição de Dilma no primeiro turno. Não dá, todavia, para perder o entusiasmo com o futuro do país. Erros de gestão podem ser revertidos. A democracia não está sob risco. Ela permite a correção de rumos e mudanças de governo sem revolução. Há saídas.

Comecemos pelas eleições. Quanto às pesquisas, elas refletem a maior exposição de Dilma à mídia. Dos que votam, 56% ainda não se conectaram à disputa. A decisão deve ocorrer no segundo turno. Lula nunca se elegeu no primeiro turno, mesmo contando com situação econômica melhor, carisma e maior capacidade de conquistar votos. A presidente é favorita, mas a queda de sua popularidade indica que as eleições serão as mais competitivas desde 2002. A reeleição não é mais tão certa, o que explica o movimento de petistas pela volta de Lula. Crescem as chances da oposição.

Nem isso move os desanimados. Para eles, se a oposição vencer será boicotada pelos petistas encastelados no governo. O argumento não procede. A invasão aconteceu nos cargos de confiança. Todos poderão ser substituídos. As carreiras permanentes incluem muitos simpatizantes do PT, mas isso acontece desde os anos 1980. Governos passados não tiveram sua gestão ameaçada. A qualidade das carreiras aumentou muito nos últimos anos. Profissionais egressos das melhores universidades, muitos com grau de mestrado e doutorado, foram atraídos pelos bons salários e pela estabilidade do emprego. A maioria pode substituir, com vantagens, os indicados por ação política.

Não dá para desesperar em caso de reeleição de Dilma. O Brasil dispõe de instituições – democracia, imprensa livre e independente, mercados sofisticados, sociedade intolerante à inflação e à corrupção, entre outras – que forçam a correção de rumos. Após reduzir a nota de crédito do país, a Standard & Poors manteve o grau de investimento com apoio na solidez de nossas instituições, segundo a própria agência.

Dilma abandonou a fracassada cruzada contra os juros altos depois que a inflação voltou. Teve de aceitar novas elevações da taxa Selic. Um senador indicado para o cargo de ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) desistiu dele depois que a imprensa revelou sua ficha suja e o próprio TCU se opôs polidamente à ideia. Funcionários do IBGE reagiram aos sinais de interferência política na divulgação de pesquisas. São demonstrações de que há mecanismos limitadores da má gestão, do voluntarismo e do arbítrio. Com Dilma ou com Lula, pode-se assistir a uma reviravolta, incluindo uma nova equipe econômica e medidas mais ousadas de ajustes e reformas.

Há sinais de crise rondando a predominância política do PT. Caiu a identificação dos eleitores com o partido, efeito do natural desgaste da longa permanência no poder. As manifestações de rua apontam para novas demandas da sociedade. O descontentamento com a crise na Petrobras diz que a opinião pública recusa a mistificação do discurso petista. Dissidências no PMDB se bandeiam para a oposição, evidenciando fraturas do pacto político que sustenta o PT no poder. Com Lula ou Dilma, medidas duras afetarão a popularidade do governo. Sem elas, a estagnação e a inflação vão piorar, acelerando o declínio do predomínio petista.

A vitória da oposição, mesmo que não aconteça em 2014, será altamente provável em 2018. O projeto do PT, de perpetuar-se no poder, é um sonho dificilmente concretizável. O país pode ter desempenho medíocre e perder oportunidades com os equívocos e as omissões dos governos petistas, mas não há o risco de uma hegemonia à moda peronista ou chavista.

Não dá para desanimar.

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