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Economia

2 de maio de 2012 , 18h51

Menos crescimento

Menos crescimento

A economia brasileira cresceu 7,5% em 2010 e apenas 2,7% em 2011. Sem um evento externo que justifique tamanha desaceleração, a explicação está aqui mesmo: crescemos acima do potencial em 2010. Quando isso acontece, formam-se desequilíbrios e a inflação sobe. O IPCA passou de 4,3% em 2009 para 5,9% em 2010 e continuou a subir em 2011 (6,5%).

Potencial de crescimento é quanto o PIB pode se expandir com estabilidade de preços. O cálculo é difícil e polêmico. É preciso cercar-se de cuidados metodológicos, de informações confiáveis e de ressalvas. No Brasil, quem o fez chegou a algo entre 4% e 4,5% em 2010. Mesmo que se questione a conta, a ideia não pode ser descartada. O crescimento tem um limite, que é a capacidade produtiva do país.

O potencial de crescimento depende da expansão de três fatores: o capital físico (investimento), o capital humano (mão-de-obra) e a produtividade (produzir mais com os mesmos recursos). Com a abertura da economia, o Plano Real e as reformas dos anos 1990, o potencial subiu. No governo de FHC, o PIB cresceu em média 2,3% ao ano; no de Lula, 4,1%.

Quando o crescimento excessivo faz a inflação aumentar, o correto é adotar medidas para desaquecer a economia e restaurar a estabilidade dos preços. Foi por isso que o Banco Central elevou a taxa de juros em 2011 e baixou normas para restringir o crédito. O Tesouro reduziu o ritmo de expansão dos gastos públicos.

Revertida a tendência de alta da inflação, o governo diz que o crescimento vai se acelerar. Sua estimativa é de 4,5% para este ano e de 5,5% para 2013. Poucos analistas concordam. Para o grupo de que participo, ele mal passará de 3% em 2012, podendo chegar a 4% em 2013. Há outras estimativas muito semelhantes.

O potencial se elevou na era Lula em razão dos ganhos de produtividade decorrentes de reformas anteriores e dos dois primeiros anos de seu próprio governo. As principais, além da abertura da economia e da estabilidade, foram a Lei de Responsabilidade Fiscal, a privatização, a reestruturação do sistema financeiro e a aceitação do capital estrangeiro nos serviços de infraestrutura. Coube a Lula ampliar o mercado de crédito pessoal e habitacional, expandir os programas sociais e criar uma moderna lei de falências. Os ganhos no comércio com a China completaram o quadro. Os benefícios dessas mudanças se traduziram em elevação da eficiência da economia. Cerca de 90% do aumento do ritmo de crescimento no período Lula veio da elevação da produtividade total dos fatores de produção.

Essas fontes de expansão da economia estão se esgotando. Com a interrupção das reformas, os ganhos de eficiência minguaram, enquanto pioravam o sistema tributário e a legislação trabalhista. A deterioração da infraestrutura, provocada por baixo investimento e má conservação, dificultou a operação da logística. A produtividade está estagnada há dois anos. A taxa de investimento continua relativamente baixa. O potencial de crescimento cai e pode ficar entre 3,5% e 4%.

Para mudar essa tendência preocupante, seria preciso retomar as reformas. O governo Dilma avançou em duas áreas, a privatização dos aeroportos e a previdência do servidor público. Embora fosse preciso muito mais, continua-se a insistir em desonerações tributárias pontuais e em medidas de curto prazo para ampliar a demanda, enquanto o problema é estrutural, de oferta. A expansão do consumo eleva a procura por mão-de-obra e os salários reais, o que agrava a perda de competitividade da indústria. Os serviços crescem pelo aumento da renda do trabalho e a agropecuária pela demanda chinesa. Ao mesmo tempo, a indústria perde mercado para a concorrência chinesa.

A percepção de queda do dinamismo da economia brasileira está se generalizando, aqui e no exterior. Erros de diagnóstico e de ação podem levar o governo a aprofundar a estratégia de estímulo ao consumo, a atacar espantalhos como a chamada “guerra dos portos”, a recorrer ao vetusto protecionismo e a promover intervenções voluntaristas nas áreas de crédito, juros e câmbio, pondo em risco a estabilidade macroeconômica. Em vez de crescimento, a colheita poderá ser mais inflação e redução do potencial de crescimento.

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