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Política

29 de out de 2014 , 18h05

Ilusionismo eleitoral

Ilusionismo eleitoral

Nenhum partido consegue, como o PT, usar propaganda desonesta, manipulação de fatos e exploração de inverdades para influenciar eleições. À moda de Goebbels, os petistas repetem mentiras à exaustão, até que elas virem verdade para os menos informados. Tal qual Stalin, recorrem a mentiras para demolir seus adversários. É o poder a qualquer custo.

Na campanha que terminou, dois capítulos desse ilusionismo, entre tantos, merecem ser esquadrinhados: 1) a afirmação de que o governo FHC quebrou o país três vezes; 2) o autoelogio quanto à taxa de desemprego, que é a menor da história, mas tem pouco a ver com o atual governo.

Um país quebra quando se torna incapaz de pagar a dívida externa. Os credores sofrem um calote ou aceitam perder parte dos empréstimos. Foi assim na Grécia em 2012. E no Brasil e em outros mais de trinta países que quebraram na crise em 1982, quando a moratória do México causou suspensão do crédito para nações devedoras.

No governo FHC, vivemos três crises cambiais, que poderiam ter provocado a insolvência do país não fossem as medidas corajosas do governo e o recurso ao FMI. Essas ações preservaram o Plano Real e a conquista da estabilidade. É o contrário do que dizia a propaganda do PT.

Como em toda reação a ameaças na economia, há um preço a pagar: redução da atividade econômica e do emprego. Perde-se um pouco para manter o todo, particularmente os programas sociais. Numa doença mais séria, somos obrigados a tomar remédios e a diminuir atividades. O PT dá a entender que o tratamento de saúde visa a infligir sofrimento ao paciente, e não à sua cura.

A campanha petista diz que FHC pôs o Brasil de joelhos perante o FMI. Falso. O FMI, do qual somos fundadores, tem a função, entre outras, de prestar assistência financeira a países em dificuldades momentâneas, que precisam do apoio enquanto adotam medidas corretivas. Recorrer ao FMI é um direito de que se valeram até nações ricas, como a Inglaterra. Sem o FMI, Lula poderia ter herdado um país quebrado em 2002. A ampliação dos programas sociais, de que se vangloria o PT, não aconteceria.

Quanto ao baixo desemprego, sua principal origem não está na ação do governo, mas na estagnação da força de trabalho, que é constituída das pessoas ocupadas e das que procuram emprego. A taxa de desemprego é a relação entre os que não encontram trabalho e a força de trabalho.

Se a força de trabalho for de 100 milhões de pessoas e 5 milhões estiverem desempregadas, a taxa de desemprego será 5% (números próximos da realidade). Suponha que esse contingente diminua para 99 milhões e que as admissões e demissões resultem em 900 000 vagas a menos. Mesmo assim, a taxa de desemprego cairá para 4,9%, porque foi menor o ritmo de queda da força de trabalho.

A recente estagnação ou redução da força de trabalho decorre de razões demográficas (menor ritmo de crescimento da população em idade de trabalhar), do fato de os jovens de 18 a 24 anos ficarem mais tempo na escola (o que é bom) e de desistências de procurar emprego. Na verdade, o mercado de trabalho tem-se deteriorado. A geração líquida de emprego vem diminuindo. Segundo dados do Ministério do Trabalho, de abril a agosto a indústria de transformação demitiu mais do que admitiu..

Como dizia Roberto Campos, estatísticas, como o biquíni, escondem o essencial. De fato, as estatísticas do emprego escondem uma trajetória de piora do mercado de trabalho, que é consequência da combinação de estagnação econômica com inflação alta. Tal estagflação veio do fracasso da política econômica, das incertezas derivadas da excessiva intervenção na economia e da resultante queda da taxa de investimento. Ninguém pode torcer por isso, mas em breve deve acontecer a elevação da taxa de desemprego. Para sorte do PT, o preço da má gestão vai aparecer apenas depois das eleições. A má herança cairá no colo de quem tiver vencido a corrida presidencial.

Os truques dos marqueteiros do PT conseguiram simplificar questões complexas, desconstruir candidatos de oposição e amedrontar boa parte do eleitorado. Infelizmente, a realidade virá. Estamos longe do colapso, mas muito perto de notícias desagradáveis na economia e no emprego.

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