Ideias antigas nos perseguem

“As fontes básicas do crescimento da economia são o investimento, o capital humano e a produtividade”
O Reino Unido continuou a progredir após a descolonização, e a razão é clara: as fontes básicas do crescimento da economia são o investimento, o capital humano e a produtividade. O conhecimento vale mais do que matérias-primas. Os territórios ocupados não foram tão relevantes para o êxito dos conquistadores.
Os Estados Unidos são bem-dotados de recursos naturais. A extensão de terras férteis em zona temperada — mais favoráveis à agricultura — dificilmente tem paralelo. No livro The Accidental Superpower, Peter Zeihan mostrou que os rios americanos navegáveis percorrem 23 440 quilômetros. Na China, 3 200 quilômetros. Na França, 1 600 quilômetros. Ótimo para a logística. Hoje, com toda essa bonança, a agricultura representa apenas 1,3% do PIB americano. A riqueza vem essencialmente de outras fontes.
Se recursos naturais bastassem, a Venezuela não viveria uma tragédia humanitária. Mais de 5 milhões de venezuelanos foram embora, o que, segundo a ONU, reduziu a população em quase 12%. A abundância de petróleo não enriqueceu a Nigéria. Possuir riquezas em seu território não é tudo. Há que criar condições para sua extração e processamento, o que requer instituições, tecnologia, bons governos e educação de qualidade.
O prefeito carioca recorreu à Justiça para contentar grupos religiosos obscurantistas, mas nos transportou à Idade Média. Nessa época, o fanatismo cristão contra pagãos destruiu obras de arte tidas como obscenas, demoliu templos e queimou livros. Apenas 1% da literatura latina sobreviveu.
O Brasil não avançará de verdade enquanto líderes governamentais insistirem em ideias que o tempo já condenou.
Publicado em VEJA de 16 de outubro de 2019, edição nº 2656