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6 de maio de 2020 , 13h22

Grande Depressão: nunca mais

Grande Depressão: nunca mais

Para o Fundo Monetário Internacional, o PIB mundial cairá 3% em 2020. A redução atingirá 7,5% na Zona do Euro, 5,9% nos Estados Unidos e 5,3% no Brasil. Será o pior desempenho desde a Grande Depressão, que começou na quebra da Bolsa de Valores de Nova York em 1929. A situação só se normalizou no início dos anos 1940 com o aumento dos gastos americanos em preparação para a II Guerra.

A Grande Depressão resultou de clamorosos equívocos. Nos Estados Unidos, acreditava-se que falências regeneravam a economia. A recuperação, dizia-se, viria depois em bases mais sólidas. O Orçamento deveria ser equilibrado. A equipe do então presidente Herbert Hoover chegou até a comemorar a quebra de empresas.

Teve mais: o Federal Reserve, o banco central, aumentou a taxa de juros, quando deveria tê-la reduzido para injetar liquidez na economia. O governo assistiu, impassível, à quebra de 9 000 bancos. A Lei Smooth-­Hawley elevou brutalmente as tarifas de importação. Uma sucessão inacreditável de desastres.

Em consequência de tudo isso, o crédito contraiu-se e o comércio mundial caiu um terço. Empresas quebraram em série e a recessão se espalhou pelo planeta. O Brasil sofreu com a queda vertiginosa dos preços do café, então sua principal fonte de exportações. O desemprego alcançou 25% da força de trabalho americana. Lá, apareceram favelas, chamadas de Hoovervilles em “homenagem” ao presidente.

“Os bancos centrais passaram a reagir apropriadamente, como ocorreu na crise financeira de 2008”

Só que o mundo aprendeu, felizmente, a reagir a crises. Com o New Deal, o presidente Franklin Roosevelt criou o sistema de previdência social americano, ideia seguida por outros países. Surgiram o seguro-desemprego, a garantia de depósitos bancários, a regulação do mercado de capitais, mecanismos de financiamento à agricultura e o seguro rural. O investimento em infraestrutura aumentou.

O economista britânico John Maynard Keynes influenciou fortemente a reversão de crenças do governo americano. Sua obra clássica — Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda —, lançada em 1936, recomendava ampliar o gasto público para suprir a queda de demanda da economia. Haveria, assim, déficit orçamentário a ser financiado pelo excesso de poupança decorrente da contração do consumo. O economista americano Alvin Hansen disseminou tais ideias em livros, artigos e seminários na Universidade Harvard, dos quais participavam altos funcionários do governo.

No pós-guerra, adveio o Estado de bem-estar social, compreendendo, além da previdência social, programas em favor dos segmentos menos favorecidos. Os bancos centrais passaram a reagir apropriadamente, como ocorreu na crise financeira de 2008, em que expandiram a liquidez — os programas de quantitative easing —, e reduziram substancialmente as taxas de juros, que em alguns casos se tornaram negativas. Evitaram a repetição do pior.

Em crises como a atual, o Estado cresce. Os bancos centrais acionam seu arsenal de medidas. É muito baixo, pois, o risco de uma nova Grande Depressão.

Publicado em VEJA de 6 de maio de 2020, edição nº 2685

 

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