Política
7 de jan de 2015 , 15h50Da Noruega para a África e outros desastres da Petrobras
Quem diria, um partido de linhagem estatista e, assim, avesso à privatização, o PT, comandou ações desastrosas na nossa mais admirada estatal, a Petrobras. É enorme o dano à empresa – na imagem, no respeito, no valor de mercado, na saúde financeira, no mercado de capitais e na capacidade de investir. São cinco pelo menos os desastres.
Primeiro, o uso da Petrobras para financiar campanhas eleitorais, mediante criminosa e sofisticada rede de captação de fundos via superfaturamento de bens e serviços à empresa. De lambuja, os operadores fizeram fortuna pessoal. O escândalo de corrupção está ligado às indicações políticas para cargos de direção.
Segundo, a mudança das regras de exploração do pré-sal. Saiu o regime de concessão, típico de países de instituições fortes como Estados Unidos, Reino Unido e Noruega. Entraram a cessão onerosa e o regime de partilha característico de países de instituições frágeis da África. No regime de concessão, confia-se nas regras do jogo e se fazem negócios como em qualquer atividade. No de partilha, desconfia-se da estabilidade das regras e prefere-se receber em óleo. Por ideologia, voluntarismo e megalomania, atribuiu-se à Petrobras o ônus de liderar a exploração do pré-sal – a totalidade no caso da cessão onerosa e pelo menos 30% no de partilha. A excessiva responsabilidade lhe impôs gigantescas obrigações e grave endividamento.
Terceiro, o controle de preços dos combustíveis, que eram vendidos no mercado interno abaixo dos custos de importação. Abandonou-se a fórmula pela qual os preços internos eram ajustados de forma transparente e previsível, com base nos seus valores no Golfo do México e na variação da taxa de câmbio. Passaram a prevalecer a vontade e os interesses eleitorais do governo. A Petrobrás amargou prejuízos de 60 bilhões de reais, o que agravou sua situação financeira.
Quarto, negócios superfaturados e sem justificativa empresarial, de que são destaques a refinaria de Pasadena e a de Abreu e Lima, cuja construção foi decidida por Lula com base em critérios políticos. Escassos de justificativa técnica e plenos de custos excessivos, tais investimentos dificilmente trarão resultados semelhantes a outros da empresa – a rigor, caberia ajustá-los à rentabilidade média, com a correspondente redução do patrimônio líquido.
Quinto, e em consequência dos demais, o valor de mercado da Petrobras caiu cerca de 80% nos últimos seis anos. Os investidores estrangeiros, que interpretam a perda como efeito da corrupção, moveram ações coletivas contra a empresa na Justiça Federal americana. Além disso, existem investigações de natureza criminal e administrativa nos Estados Unidos. Acrescente-se a humilhação de os balanços da Petrobras não terem sido auditados por auditores externos, o que pode acarretar novos problemas à frente. Serão lentas, difíceis e custosas a reconquista da confiança dos investidores e a volta do acesso aos mercados interno e internacional de capitais. Ficará mais difícil financiar os investimentos bilionários do pré-sal.
Arrasada e aviltada, a Petrobras precisa de um líder capaz, decente e de alto respeito profissional, designado sem interferência política e que possa preencher os demais cargos com gente preparada.
A recuperação da confiança de investidores e fornecedores vai exigir mudanças ciclópicas, incluindo a restauração do regime de concessão (algo difícil para um governo que não reconhece erros). A Petrobras precisa deixar de ser a operadora única e de controlar pelo menos 30% dos campos.
Deve-se dotar a empresa de sólida governança corporativa. Os dirigentes devem ser escolhidos – no mercado ou nos quadros técnicos – com o apoio de empresas especializadas (headhunters). Indicações políticas devem ser abolidas. É necessário criar e/ou fortalecer órgãos internos típicos de companhias abertas e canal interno para denúncias.
A Petrobras é plenamente recuperável. Possui quadros técnicos qualificados e comprovada competência na criação e no uso de tecnologia de pesquisa e exploração de petróleo. A vontade política e a coragem na tomada de difíceis decisões devem prevalecer sobre a ideologia e o voluntarismo.