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17 de jun de 2019 , 10h45

Será menor a capacidade do governo de atrair talentos

(Ueslei Marcelino/Reuters)

A demissão pública e humilhante do presidente do BNDES, Joaquim Levy, emite muitos sinais negativos. Em primeiro lugar, não é assim que governos dispensam servidores que se tornam inconvenientes ou desnecessários. O processo costuma incluir um contato pessoal entre o superior e o subordinado, ainda que por telefone. E em muitos casos é seguido de uma carta protocolar em que se exaltam as qualidades do demitido.

Além de agir por impulso e afirmar que estava “por aqui” com Levy, o presidente Jair Bolsonaro aludiu à nomeação, que o incomodou, de Marcos Pinto para uma posição de destaque no BNDES. O pecado dele teria sido o exercício do cargo do chefe de gabinete quanto Demian Fioca era o presidente do banco, em governo do PT. O presidente parece imaginar que são petistas todos os que serviram aos governos de Lula e Dilma. O cargo é exercido obrigatoriamente por funcionários da carreira do banco.

Sorte tem o Brasil de contar com um amplo conjunto de pessoas de elevada capacidade profissional e disposição de aceitar convites para integrar os quadros profissionais do governo. Eles assim o fazem movidos pelo dever de servir e/ou pelo prazer de fazer parte dos quadros dirigentes da administração pública (salvo os que buscam a posição por razões nada republicanas). Raramente estão filiados a partidos políticos. Profissionais de alta qualificação serviram ao governo no regime militar e novamente na democracia. Nem por isso foram malvistos pela opinião pública.

Economistas de alto conceito na academia e no mercado financeiro participaram do governo Lula, de que são exemplos marcantes Murilo Portugal, Marcos Lisboa e o próprio Joaquim Levy, que integraram a equipe do Ministério da Fazenda sob a liderança do ministro Antonio Palocci, no primeiro mandato de Lula. Nenhum deles é petista.

Fala-se que Paulo Guedes não andava satisfeito com resistências de Joaquim Levy a determinações do ministro, como em demora na devolução de recursos ao Tesouro. Mesmo que fosse assim, o natural teria sido uma conversa entre os dois, até porque são amigos, para pôr tudo em pratos limpos e, se fosse o caso, decidir pela saída de Levy.

A forma impulsiva, pública e extravagante com que Bolsonaro se referiu a Levy não lhe deixou alternativa: de forma digna, pediu demissão ao ministro da Economia. O episódio pode ter criado insegurança no mercado financeiro – que assiste a mais uma demonstração de imprevisibilidade do presidente –, na equipe de governo (quem pode ser o próximo?) e no universo dos que se dispõem a integrar a administração pública federal.

Em resumo, o governo perde a capacidade de atrair talentos. Os que doravante forem convidados serão obrigados a avaliar os riscos de passar pelo constrangimento imposto a Joaquim Levy. Claro, muitos aceitarão correr o risco. Não se quer dizer que haverá uma escassez de talentos prontos para aceitar convites, mas por certo o universo dos que assim o fazem deve diminuir.

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