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16 de set de 2011 , 22h25

Renasce a era Geisel. Herança ficará para os próximos governos

O aumento do IPI, direcionado para reduzir a importação de automóveis e “proteger” a indústria nacional, é uma volta ao passado, como assinalei em minha nota de ontem. Depois de ouvir os ministros explicando o decreto, me convenci de que estamos com as mesmas atitudes e as mesmas medidas da era Geisel. Depois dos automóveis, virão os eletrodomésticos e outros. O discurso da presidente Dilma em Belo Horizonte, hoje de manhã, não pode deixar margem a dúvida. Para ela, a forma de enfrentar a crise é investir e fazer o Brasil crescer. Vieram-me à mente o presidente Geisel e seus ministros, afirmando, em 1974, que o Brasil enfrentaria a crise do petróleo expandindo a economia. Deu um monte de problemas, como se sabe, incluindo o começo da disparada inflacionária que nos levaria ao processo hiperinflacionário da segunda metade dos anos 1980.

A estratégia Geisel bateu de frente em dois momentos. Em 1979, com a segunda crise do petróleo. Em 1982, quando irrompeu a crise da dívida externa, logo após a moratória mexicana de agosto de 1982. A paralisia do crédito afetou o programa de investimento das estatais e do próprio governo. Já no período do presidente Figueiredo, o Brasil se viu em meio a duas crises, uma de crescimento, outra de inflação. Uma das causas dessas crises foi a estratégia Geisel.

O renascimento das visões do mundo da era Geisel pode agora ter vida mais longa. Diferentemente daquela época, não somos mais grandes importadores de petróleo e não temos problema de balanço de pagamentos. A estratégia Dilma, que inclui menor compromisso com o combate à inflação, pode demorar a produzir seus efeitos deletérios. O Brasil pode conviver por alguns anos com crescimento do PIB de 3% a 4% e inflação de 6% a 7%, que é o cenário provável para o atual período de governo.

Assim, a menos que uma crise externa interrompa a estratégia e produza efeitos negativos mais rapidamente, a colheita dos maus ventos ficará para os sucessores de Dilma, Mantega, Pimentel e Mercadante.

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