Reforma da Previdência deve ser um único projeto
Jair Bolsonaro, presidente da República eleito, conversa com jornalistas em frente ao Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), sede da equipe do governo de transição, em Brasília (DF) – 04/12/2018 (Adriano Machado/Reuters)
O presidente eleito Jair Bolsonaro fará bem para seu governo e para o país se desistir da ideia de fatiar a reforma da Previdência. Essa mudança é elemento chave para evitar a insolvência do Tesouro Nacional.
Sem a reforma, o novo governo tem pouco ou nenhum futuro. Ausente a medida, a relação entre a dívida pública prosseguirá sua trajetória explosiva. Em algum momento, os que investem em papéis do Tesouro perceberão o risco de calote e fugirão para outros ativos, inclusive no exterior.
O efeito desse fracasso seria uma grave crise de confiança, a volta da inflação sem controle e o fim das esperanças de que o Brasil volte a crescer. Haveria piora do desemprego e da renda dos trabalhadores. A impossibilidade de atender às expectativas dos eleitores, formadas na campanha eleitoral, atingiria gravemente a popularidade do presidente, prejudicando as condições de governabilidade.
A reforma proposta pelo presidente Michel Temer está sob exame do Congresso. Pode ser retomada pelo próximo chefe do governo ou substituída por uma nova, para o que existe um excelente estudo conduzido pelo economista Paulo Tafner e financiada pessoalmente pelo ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga.
Não dá para entender o que o presidente eleito Jair Bolsonaro quis dizer com a ideia, por ele exposta ontem, de “fatiar” a reforma. Se a explicação for a de que ele tentará aprovar a medida por etapas, começando, como disse, pelos privilégios, estará adotando uma estratégia equivocada.
Reformas da Previdência constituem tema polêmico em todo o mundo. Consomem preciosas parcelas do capital político do chefe do governo. Por isso, têm que ser buscadas em um único projeto, que contemple o maior número de pontos merecedores de aperfeiçoamentos ou mudança.
O presidente Maurício Macri, da Argentina, tentou uma reforma previdenciária “fatiada” e se deu mal. A mudança por etapas resultou em desperdício de capital político nas várias tentativas. Houve frustração de expectativas dos investidores e do mercado financeiro como um todo, o que contribuiu para criar a crise e obrigou o país e recorrer ao FMI. Foi preciso aumentar brutalmente a taxa de juros para evitar fugas de recursos para o exterior.
Além desse risco, a reforma fatiada levaria tempo excessivo para sua aprovação final, o que terminaria por atropelar a agenda de outras reformas, particularmente a tributária, a qual, assim como a da Previdência, exige emenda constitucional.
Se não desistir da ideia de “fatiar” a reforma da Previdência, restaria ao presidente convencer a opinião pública, em especial o mercado financeiro, de que sua estratégia levará ao melhor caminho para reformar o insustentável regime previdenciário do Brasil. Até aqui, está difícil entender.