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22 de jul de 2019 , 10h43

Questionar dados do Inpe é o que danifica a imagem do país

(Ueslei Marcelino/Reuters)

O presidente Jair Bolsonaro erra ao questionar os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) sobre desmatamento na Amazônia. Dados não costumam mentir. O Inpe tem elevada reputação internacional. Utiliza sofisticado sistema de aferição do desmatamento. Possui profissionais de alta qualificação e integrantes de sua diretoria têm sido premiados em avaliações estrangeiras de grande prestígio.

Claro, não se pode descartar a hipótese de erro, mas dificilmente será o caso diante da já longa experiência do Inpe no trato da matéria e da robusta tecnologia que emprega, incluindo o monitoramento por satélite.

O presidente erra também quando exige que a divulgação dos dados seja previamente submetida ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. O ministro e o presidente podem ter a primazia da informação, antes do conhecimento público, mas jamais o poder de avaliar a conveniência e oportunidade de sua divulgação.

Se assim fosse, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) deveria submeter previamente seus dados sobre inflação, desemprego, atividade econômica e outros a autoridades federais antes de torná-los públicos. Sua credibilidade está justamente no fato de que suas informações, boas ou más para o governo, são divulgadas sem restrições. Eventual interferência política poria por terra toda a credibilidade construída. O mesmo raciocínio se aplica ao Inpe.

Ao contrário do que pensa o presidente e agora também o ministro Marcos Pontes, o pior para o Brasil é questionar publicamente a qualidade das pesquisas do Inpe. Isso transmite a ideia de que esses órgãos, que produzem informações relevantes para o governo e o público, inclusive o do exterior, estariam sob a influência política de governos da hora.

Muito provavelmente, a dúvida que o presidente lançou sobre os dados divulgados pelo Inpe já provocou danos à imagem do país. Ele faria bem se se preparasse antes de emitir opiniões. Não deveria fazê-lo sem munir-se de informações básicas sobre este e outros assuntos que propagandeia diariamente a torto e a direito.

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