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3 de jun de 2021 , 15h38

Presidentes não devem comemorar altas na Bolsa

Mercados acionários não refletem, necessariamente, o desempenho da economia e a condução da política econômica. Podem mudar inesperadamente

No seu pronunciamento de ontem, o presidente Jair Bolsonaro comemorou o nível recorde alcançado na B3, a bolsa de valores. O resultado teria sido, imagina-se, uma demonstração de confiança na economia (o desempenho favorável do PIB) e na política econômica do governo. Isso não é recomendável a um líder político.

O mercado de ações é por natureza volátil e reage a um amplo conjunto de fatores e não apenas a um resultado favorável da economia. Daqui a algum tempo, um evento qualquer, digamos vindo do exterior, pode reverter a tendência e provocar quedas nas ações de empresas que compõem o índice da B3. Isso nada teria a ver com o desempenho do PIB nem como a política econômica. Nesse caso, para ser coerente, Bolsonaro deveria falar em rede nacional lamentando a perda de confiança no país.

Muitos analistas duvidam da sustentabilidade dos atuais resultados da bolsa de valores. Eles estão menos associados aos fundamentos da economia – potencial de crescimento, elevação dos níveis de emprego, finanças públicas sustentáveis, inflação sob controle e outros indicadores que permitem projetar cenários em que as empresas irão faturar mais e elevar seus lucros. A perspectiva de alta na rentabilidade das empresas cotadas em Bolsa é um dos fatores básicos que animam os investidores a fazer suas apostas.

Embora a economia mundial esteja em forte recuperação, o que justificaria a atual euforia do mercado acionário mundo afora, existe a percepção de que esse comportamento reflete a elevada liquidez dos mercados globais – que leva os mercados a ser complacente com ricos – e o nível baixo das taxas de juros. Isso induz investidores a buscar aplicações de maior rentabilidade, investindo mais em ações.

Analistas mais conservadores chegam a falar em uma bolha especulativa que poderia estourar a qualquer momento. Uma crise política grave, guerras, resultados econômicos desfavoráveis, derrotas do governo no Congresso e outros acarretariam o estouro da bolha e quedas espetaculares dos preços das ações. Não estamos perto desse cenário desfavorável para a B3, mas, se acontecer, Bolsonaro terá que confiar no esquecimento do que ele falou à Nação e lamentar, calado, o desmentido de sua afirmação super otimista desta quarta-feira, 2.

Presidentes sensatos ou bem-informados não se aventuram a comemorar publicamente o desempenho das ações nas bolsas de valores.

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