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3 de mar de 2021 , 10h06

PIB de 2020: menos ruim do que se imaginava

Indústria foi o destaque, serviços saíram prejudicados e carregamento estatístico pode assegurar crescimento em torno de 3,5% em 2021

Em termos dessazonalizados, o PIB cresceu 3,2% no quarto trimestre de 2020, uma forte desaceleração quando comparado ao terceiro trimestre, que se havia expandido 7,7%. No ano, caiu 4,2%, resultado bem menos desfavorável do que a estimativa inicial. No começo da pandemia, as projeções chegavam a queda dois dígitos. Em meados do segundo trimestre do ano passado, a média das previsões apontava redução de 8%. O Fundo Monetário Internacional divulgou estimativa de mais de 9%.

Grande parte dos erros de projeção decorreu da dificuldade de calcular o impacto da pandemia ao longo do ano. Uma das principais bases para efetuar previsões era a estimativa do número de dias parados, um grande desafio diante da extensão imprevisível dos efeitos da covid-19. Houve também o relaxamento precoce das medidas de restrição às atividades econômicas, o comparecimento irresponsável a festas, bares e praias e o mau comportamento do presidente da República, que desestimulou o distanciamento social e o uso de máscaras, além de promover aglomerações. A demanda ficou maior do que se calculava.

Por outro lado, as medidas de combate à pandemia – principalmente o auxílio emergencial e os estímulos à manutenção de empresas e empregos – elevaram a demanda além do imaginado e assim reduziram as estimativas de desemprego. Por causa de tudo isso, a renda foi menos prejudicada, o consumo comportou-se melhor do que as previsões e a arrecadação de tributos beneficiou-se desses movimentos.

Pelo lado da oferta, o destaque foi a indústria, que cresceu 1,4% no quarto trimestre em relação ao período anterior, quando se consideram os dados dessazonalizados. Ao longo do ano, o setor teve as projeções de seu desempenho sistematicamente revistos para melhor. Com base na mesma métrica, a agropecuária caiu 0,3% no último trimestre, enquanto os serviços subiram 2,6%, os primeiros sinais de recuperação pós-pandemia.

Uma característica presente em todo o exercício foi o caráter heterogêneo da recuperação da economia. Os serviços foram o setor mais atingido pela pandemia, pois depende do relacionamento interpessoal, da frequência a locais que provocam aglomerações – restaurantes, estádios, cinemas e estádios – e de viagens, de que é parte crucial do turismo. Por isso, o setor tende a se recuperar rapidamente à medida que avançar a vacinação, a qual permitirá a liberação total dessas atividades.

Sob a óptica da demanda, a expansão do consumo das famílias atingiu 3,3% no quarto trimestre, igualmente em termos dessazonalizados, enquanto a atividade do governo caiu 0,5% no mesmo período, ajustado à mesma metodologia. O destaque do trimestre foi o investimento. A formação bruta de capital fixo (FBCF) cresceu 12,9%, mas esse resultado decorreu essencialmente da contabilização das importações de plataformas de exploração de petróleo. Estudo da Tendências Consultoria estimou que, sem esse item, a FBCF teria permanecido estável no ano de 2020.

O carregamento estatístico, isto é, a influência dos resultados do quarto trimestre na estimativa do PIB de 2021, será de 3,5%. Isso significa que, mesmo se houver uma eventual estagnação da economia brasileira neste exercício, estará assegurado expansão de mesma magnitude. Claro, muito dependerá dos efeitos negativos do agravamento recente da pandemia.

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