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17 de out de 2017 , 19h12

Otimismo externo com o Brasil: o que pode dar errado?

O aumento das chances de Lula ou de Bolsonaro poderá azedar o humor dos mercados (Jefferson Coppola/Dedoc e Cristiano Mariz/VEJA.com)

Chances de vitória de Lula ou Bolsonaro mudarão o clima positivo de investidores estrangeiros. Mas isso só entrará no radar em março e abril de 2018.

Nas conversas da semana passada em Washington, simultâneas à reunião anual do FMI, percebi um otimismo generalizado de bancos e investidores em relação ao Brasil. O mesmo foi dito, é verdade, de outros países emergentes, com exceção da Venezuela e de países mais pobres que não costumam atrair o interesse de quem empresta dinheiro ou faz investimentos.

O pano de fundo é a recuperação da economia dos países desenvolvidos. Todos crescem de maneira sincronizada, o que não ocorria há cinquenta anos. Até a Grécia, onde foi mais intensa a crise do euro de 2012, a economia se expande. Ninguém enxerga risco para os próximos anos, mesmo diante dos embates verbais entre os EUA e a Coreia do Norte.

A América Latina se destaca. Pesquisa do Goldman Sachs, realizada com mais de mil participantes de um evento em Washington, indicou que 61% deles pensam investir recursos nos mercados financeiros da região.

No caso do Brasil, valoriza-se a qualidade da equipe econômica – incluindo o presidente do Banco Central –, a retomada de reformas estruturais, a recuperação da economia e a situação confortável das contas externas, particularmente a robustez do superávit comercial e as reservas internacionais superiores à dívida externa.

Olha-se com especial interesse as eleições de 2018 no Brasil, no México, na Colômbia e no Chile. Brasil e México podem ser fontes de incerteza no próximo ano, dado o risco de reversão da política econômica responsável praticada atualmente nesses dois países.

No Brasil, imagina-se que isso poderá ocorrer se o eleito for Lula (ou outro candidato do PT) ou Bolsonaro. No México, o risco estará na eleição do candidato de esquerda, Andrés Manuel López Obrador, que concorre à presidência pela terceira vez, agora com maiores chances.

O otimismo em relação ao Brasil não arrefece mesmo na hipótese de não aprovação da reforma da Previdência no governo Temer. A reforma, sabe-se, é crucial tanto para viabilizar o teto de gastos aprovado em 2016 quanto para reduzir a relação entre a dívida pública e o PIB, que é o principal indicador de solvência do Tesouro Nacional. Os investidores compram a tese de que ela será aprovada, agora ou no próximo governo.

Assim, salvo uma nova crise no exterior, o que se descarta neste momento, a reversão do otimismo sobre o Brasil somente ocorrerá se um candidato como Lula ou Bolsonaro exibir chances de ganhar as eleições de 2018. Há investidores que não olham para as atuais pesquisas de intenção de voto. Dizem que a corrida presidencial brasileira entrará no seu radar apenas a partir de março e abril do próximo ano.

A meu ver, essa é uma visão correta. O jogo eleitoral vai começar a esquentar no momento apontado pelos investidores. Até lá, pesquisas servem para orientar disputas nos partidos, para animar pretendentes ao cargo ou para especular sobre o tema.

(Blog da Veja, 17 out 2017)

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