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26 de jan de 2018 , 18h17

O PT precisa disputar a Presidência, mesmo que seja para perder

Como ou sem Lula, são escassas as chances de o PT ganhar a Presidência (Heitor Feitosa/VEJA.com)

Tecnicamente, Lula virou ficha suja depois da condenação unânime pelo TRF4. Ainda pode recorrer ao próprio tribunal, ao STJ, ao STF e ao TSE, mas poucos acreditam nas chances de reverter a decisão. Difícil será viabilizar sua candidatura à Presidência. Por que então, mesmo assim, o PT decidiu anunciar seu nome como pré-candidato do partido?

Quatro razões explicam a lógica por trás dessa decisão. A primeira se embasaria na premissa de que o TSE validará a candidatura após o registro em 15 de agosto. Se for assim, o PT e Lula iriam em frente. Seria o melhor dos mundos para o partido.

A segunda razão tem a ver com história do PT, a mais bem-sucedida agremiação de esquerda da América Latina. Seu principal líder nunca professou o credo comunista, presente ou oculto em outros partidos semelhantes da região. Nesse sentido, o PT se aproxima da social-democracia europeia e se distancia do PCB e do PSOL. Os petistas têm visões intervencionistas do ultrapassado nacional-desenvolvimentista brasileiro, mas sua maioria, a começar de Lula, é de moderados no campo político.

Por isso, o lugar da esquerda no Brasil pertence ao PT. Caso desista de concorrer à Presidência, mesmo com substitutos como Jacques Wagner ou Fernando Haddad, esse lugar será tomado por outra agremiação. Como se sabe, não há vácuo em política. A história do PT, de seus êxitos e fracassos, ficaria para trás. O partido poderia murchar.

A terceira razão está ligada à preservação de sua bancada no Congresso e de cargos eletivos nos estados. Uma candidatura presidencial tende a arregimentar votos para deputados (federal e estadual), senadores e governadores. Sem isso, a bancada do PT no Congresso tende a diminuir. O partido perderia posições que conquistou no nível regional.

A quarta razão se relaciona com o financiamento de campanhas eleitorais. Com a proibição de contribuições de empresas e a perda de relevância de empreiteiras, de onde vinha grande parte dos fundos de campanha, assume importância fundamental o Fundo de Financiamento Eleitoral criado recentemente. A participação nesse bolo é proporcional às bancadas de cada partido no Congresso.

Tudo indica que são escassas as chances de o PT voltar à Presidência, em face dos graves danos de imagem ao partido e a Lula nos últimos tempos. Entre os principais estão os escândalos de corrupção, a desastrosa administração de Dilma Rousseff e, agora, a forte exposição negativa no julgamento de Porto Alegre. Isso sem considerar, vale repetir, que o PT não contará com os abundantes recursos de campanhas passadas.

Além disso, embora o PT preserve o voto dos convertidos, o ex-presidente perdeu o apoio da classe média, de que gozou no passado. Mesmo assim, concorrer à Presidência, se possível com Lula, é a estratégia política que resta ao partido neste momento. Vai que dá sorte e ganha. Seja como for, precisa ir para a disputa, mesmo que para perder.

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