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19 de set de 2018 , 16h46

O PT contribuiu para a ascensão de Bolsonaro

Jair Bolsonaro (PSL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil - Daniel Pinheiro/Agência Brasil)

Caso Jair Bolsonaro se torne presidente do Brasil, uma hipótese não desprezível a esta altura, muito se escreverá sobre esse fenômeno sem paralelo na nossa história. Bolsonaro não pode ser comparado a dois outros meteoros políticos – Jânio Quadros e Fernando Collor – que não eram principiantes em eleições majoritárias. Jânio havia sido prefeito e governador de São Paulo. Collor, prefeito de Maceió e governador de Alagoas.

Bolsonaro será, se eleito, o primeiro político que sai da condição de parlamentar do baixo clero em sete mandatos como deputado federal, para se tornar presidente da República em sua primeira tentativa. Muito se escreverá sobre essa impressionante trajetória, mas já é possível identificar uma razão básica de seu sucesso: a contribuição do PT para o seu êxito, se ocorrer.

A campanha de Bolsonaro se enquadra no padrão populista da América Latina e agora dos Estados Unidos e da Europa, onde a extrema direita tem obtido expressivos resultados eleitorais. Em todos esses casos, os candidatos exploraram, entre outros fatores, o sentimento antipolítico, a desesperança gerada por desemprego e queda de renda, o aumento da desigualdade social e a indignação diante da deterioração do bem-estar de parcela expressiva do eleitorado.

Em tais situações, o voto do eleitor mediano é influenciado por ideias salvadoras e simplistas. A avaliação de inconsistências das promessas eleitorais requer conhecimentos que o eleitor mediano não domina, em relação a limites à aprovação de propostas, bem assim sobre os condicionantes socioeconômicas e culturais que envolvem complexas negociações no campo político.

Bolsonaro tem pescado seus votos entre eleitores indignados com as piores mazelas do país neste momento. Além do desemprego e da queda de renda, sobressaem a incompetência, os privilégios, a insegurança pública, a piora da saúde e a corrupção. Tudo isso se acentuou nos governos do PT, principalmente durante a desastrosa administração de Dilma Rousseff, que nos legou a pior recessão da história.

A má gestão do PT, que começou em 2006 e piorou consideravelmente entre 2011 e 2016, é a fonte básica da criação do ambiente de insatisfação social habilmente explorado por Bolsonaro e impulsionado pelo aprofundamento do antipetismo nos últimos anos. Além da busca por ordem, há também o medo do retorno dos petistas ao governo. Aos olhos de muitos, a vitória do PT representaria a volta de seus clamorosos erros, mas também o ressentimento pela prisão de Lula e um desejo inconfessado de vingança. Há muito de exagero nessas visões, mas elas movem os jovens, o agronegócio e a elite em geral.

Bolsonaro nunca reconhecerá os méritos do PT caso se eleja presidente, mas a história tem tudo para mostrar a associação entre a corrupção da era petista e os maus resultados na economia como fatores preponderantes na eventual vitória do capitão.

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