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22 de abr de 2018 , 11h43

O PT colheu, não plantou para o futuro e depois destruiu

Lula chega à Superintendência da Polícia Federal em São Paulo para realizar o exame de corpo de delito e seguir de helicóptero para o aeroporto de Congonhas, em São Paulo - 07/04/2018 (Suamy Beydoun/AGIF/Folhapress)

Em entrevista à jornalista Monica Bergamo, publicada na Folha de S. Paulo (19/4/2018), o ex-ministro José Dirceu exaltou os feitos do governo Lula no campo social. Para ele, “o legado de Lula, o nascente estado de bem-estar que ele consolidou, está sendo todo desmontado. Estão desfazendo a era Lula como quiseram desfazer a era Vargas”.

É provável que Dirceu acredite no que disse, mas sua afirmação não faz o menor sentido. Como se sabe, um governo que moderniza o país lega ao sucessor a colheita dos respectivos frutos. Reformas levam tempo para maturar. Bill Clinton se beneficiou das mudanças de Ronald Reagan; Tony Blair, das reformas de Margaret Thatcher. Lula se ganhou com as mudanças de FHC, como o fim da hiperinflação e as reformas microeconômicas que contribuíram para aumentar a produtividade da economia.

O governo Lula foi bafejado pela sorte. Logo no início, a China se tornou a grande importadora de nossos produtos do agronegócio e da exploração mineral. A maior demanda aumentou os preços desses produtos. Esse duplo efeito equivaleu a um enorme ganho de produtividade. Foi um maná dos céus, aquilo que se ganha sem esforço.

Ora, a produtividade é a principal fonte de geração de renda e riqueza. O PT tinha como bandeira o combate à desigualdade e à pobreza, mas isso dependia de recursos para financiar os programas. Eles surgiram com as reformas de FHC e com a ajuda chinesa.

A grande contribuição de Lula foi evitar que esses dois benefícios fossem dissipados por uma crise de confiança e com a volta da inflação sem controle. O programa de governo do PT poderia levar a isso, mas Lula resolveu manter a política econômica de FHC, que antes acusava de ser neoliberal. A confiança se manteve e a inflação ficou controlada.

Infelizmente, Lula começou uma marcha à ré depois da substituição do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, por Guido Mantega. A revisão se acelerou no segundo mandato e se agravou no período de Dilma Rousseff: aumento de gastos, subsídios injustificáveis via crédito do BNDES, intervenção desastrosa no setor de energia elétrica, controle de preços da Petrobras e redução artificial da taxa Selic do Banco Central.

Sem contar a corrupção sistêmica, a desastrosa política econômica acarretou aumento da inflação e a maior recessão da história. A corrosão inflacionária da renda e a destruição de empregos prejudicaram essencialmente as classes menos favorecidas. Os ricos, como se sabe, conseguem defender-se da inflação e pouco sofrem com os efeitos da recessão.

José Dirceu errou duplamente. Primeiro, Lula não consolidou o estado de bem-estar; apenas distribuiu os frutos de árvores que outros plantaram e do maná dos céus chinês. Segundo, o desmonte dos benefícios foi provocado pelo próprio PT com seus lamentáveis equívocos da gestão econômica. Pior, o partido não plantou árvores para os sucessores colherem. Foram raros os casos de medidas para aumentar a produtividade.

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