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15 de nov de 2017 , 18h13

O PSDB não tem como se livrar da associação com Michel Temer

Fique ou não no governo, o PSDB não tem como se livrar da associação com Michel Temer (Cristiano Mariz/VEJA)

O PSDB vive uma de suas muitas crises e indecisões. Pode voltar ao poder em 2018, mas parece trabalhar contra si próprio. Sem rumos, sem liderança clara e imerso em disputas internas, pode desperdiçar a oportunidade que tem pela frente.

Os dois pretendentes ao cargo preenchem os requisitos que, a julgar por eleições passadas, fazem a competividade do candidato: nome nacional, tempo de TV, estrutura partidária e regional, e o mínimo de carisma. Geraldo Alckmin, a mais provável escolha, seria hoje o candidato mais competitivo para disputar a Presidência.

Acontece que o PSDB se embaralha com o mote de sair da base do governo. Aécio Neves surpreendeu ao destituir Tasso Jereissati da presidência interina. Muitos tucanos interpretaram a decisão como parte de um plano, combinado com Temer, para evitar a eleição de Jereissati à presidência do partido e eleger Marconi Perillo, que defende a permanência no governo. Como explicar que Aécio agora defenda a saída? Confuso, não?

A justificativa para a saída seria dissociar o PSDB de um governo coalhado de pessoas envolvidas nos escândalos de corrupção. A ideia, qualificada de “hipocrisia moralista” em editorial da Folha de S. Paulo de domingo último, só convence os seus defensores.

A cruzada moralista esquece que tucanos estão igualmente encalacrados nas denúncias, inclusive o próprio Aécio. Ao se digladiarem em público, eles protagonizam o que o editorial do Estadão de sábado intitulou de “reality show”.

Fique ou não no governo, o PSDB não tem como se livrar da associação com Michel Temer. Participou das articulações políticas para o impeachment de Dilma, embarcou no governo na primeira hora e apoiou todas as medidas de reforma.

Se era para sair por razões moralista-eleitorais, deveria tê-lo feito imediatamente à publicação da conversa de Michel Temer com Joesley Batista no Palácio do Jaburu, que minou a já baixa popularidade do presidente. A negação da Câmara ao pedido do STF para abrir processo criminal contra Temer teve o voto de metade dos deputados tucanos.

Se o PSDB acredita que os eleitores vão esquecer que integrou o governo Temer desde o início, seus adversários se encarregarão de refrescar a memória deles. Fique ou não na base parlamentar, sua participação no governo está indelevelmente registrada.

O PSDB corre o risco de nada ganhar com o abandono da base parlamentar do governo e perder prestígio perante um eleitorado sensível a aceitar a pecha de oportunista que Lula e Bolsonaro vão buscar impingir-lhe. E pode perder a chance de ter o PMDB em sua coalizão, o que agregaria tempo de TV e capilaridade nos municípios.

A volta do PSDB ao comando do país pode assegurar a continuidade e o aprofundamento das reformas estruturais de Temer, incluindo um novo esforço de privatização e de abertura da economia, as quais ampliarão o potencial de crescimento e de geração de emprego e renda. É difícil acreditar que o partido possa imolar-se e jogar fora essa chance.

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