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30 de nov de 2017 , 18h28

O PSDB e seu continuado drama hamletiano: ser ou não ser

Os tucanos podem jogar fora as chances reais de voltaram ao poder, a menos que Geraldo Alckmin consiga não apenas unir o partido, mas principalmente dar-lhe o mínimo de coerência. (Vanessa Carvalho/Brazil Photo Press/LatinContent/Getty Images)

O PSDB continua surpreendendo. Depois de ser um partido “em cima do muro”, isto é, com dificuldade de decidir sobre quase tudo, agora acrescentou uma novidade: ser ao mesmo tempo governo e não ser governo. Em seu debate sobre se permanece ou fica no governo de Michel Temer, os tucanos criaram uma nova situação no campo político: sair do governo, mas continuar no governo, aprovando suas propostas de reforma.

Desde que os partidos políticos se tornaram peça essencial do sistema político e organização que intermedia interesses da sociedade, aprendemos que se uma agremiação sai do governo passa automaticamente à oposição. Sim, como aprendemos há mais de dois séculos, integra o governo ou sua coalização o partido que apoia o programa do governo.

Ao que tudo indica, a ideia de abandonar o governo Temer significa livrar-se do contágio com sua impopularidade e com o envolvimento de alguns de seus membros, inclusive o próprio chefe do governo, em denúncias de corrupção. Ora, o PSDB não tem como desconectar-se de Temer. Fez parte da coalização que promoveu o impeachment de Dilma Rousseff e integrou o ministério nos seus primeiros instantes. Seus adversários cuidarão de lembrar os eleitores dessa circunstância. E não custa registrar que os tucanos também têm membros envolvidos em denúncias semelhantes.

Não satisfeitos, os tucanos apareceram com uma nova definição de Estado. No programa que divulgaram esta semana, está dito que não querem, como concepção de Estado, “nem máximo, nem mínimo, pois esse é um falso dilema”. E concluíram: deve ser “musculoso, eficiente”. Segundo o dicionário Houaiss, musculoso é o “que apresenta músculos bem delineados; musculado”. Pode ser forte, mas também pode ser máximo.

É incrível que um partido com a história do PSDB consiga enredar-se em tais dilemas. O governo tucano de FHC, um dos mais reformadores da história, promoveu medidas para modernizar o Estado e combater os seus privilégios. Pois os líderes do partido no Congresso acabam de dizer que só apoiam a reforma da Previdência se privilegiados funcionários públicos mantiverem a inaceitável vantagem de se aposentar com salário integral. Vale lembrar que o PSDB é o criador do fator previdenciário, que evitou um agravamento ainda maior da Previdência. Pode?

Do jeito que a coisa vai, sem rumo e sem liderança, os tucanos podem jogar fora as chances reais de voltaram ao poder. A menos que seu novo presidente, Geraldo Alckmin, consiga não apenas unir o partido, mas principalmente dar-lhe o mínimo de coerência.

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