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23 de nov de 2018 , 17h11

O novo presidente do Banco do Brasil começou mal

O economista Rubem Novaes, futuro presidente do Banco do Brasil (Adriano Machado/Reuters)

Rubem Novaes, o novo presidente do Banco do Brasil, é um economista com várias passagens pelo governo federal, inclusive como diretor do BNDES. Tem excelente trajetória acadêmica, que culminou com o doutorado na Universidade de Chicago.

Novaes tem credenciais para bem exercer o novo cargo, mas começou mal. A exemplo do que tem ocorrido na atual transição, ele parece ter falado antes de pensar. Prometeu, seguindo orientação do próximo superministro da Economia, que iria enxugar o BB e privatizar partes de sua estrutura. Estaria na lista a área de cartões de crédito.

Trata-se de uma medida sem sentido. A área de cartões de crédito do BB é uma das mais lucrativas da instituição. O banco é o maior emissor desse produto, êxito que está intimamente associado à sua imagem. Nada disso aconteceria sem o balcão do banco, isto é, a sua capacidade de venda. Privatizar isoladamente essa área tem tudo para diminuir o seu valor.

O BB criou muitas áreas de negócios depois que perdeu a “conta de movimento” em 1986, pela qual era suprido automaticamente de recursos e a custo baixo pelo Banco Central. O BB se preparou para ser viável no mercado financeiro e foi para tanto autorizado pelo governo a atuar em todas as áreas do sistema financeiro.

Daí a modernização de sua estrutura, a redução de pessoal e de agências e a criação das áreas de previdência privada, seguros, capitalização, gestão de recursos e outras. Foram essas áreas que permitiram ao BB tornar-se razoavelmente competitivo. É assim que ele atua em atividades menos rentáveis ou onerosas, como as do crédito rural e da prestação de serviços ao governo.

Ao mesmo tempo, a conglomeração do BB foi a consequência lógica da construção de sua capacidade de concorrer com os bancos privados de rede, que dispõem das mesmas áreas. A privatização dos negócios rentáveis reduzirá mais do que proporcionalmente o valor de mercado do banco. A soma de suas partes produz um valor maior do que o todo. O BB perderá rentabilidade e competitividade.

Em algum momento, quando a sociedade se convencer de que a privatização integral do BB é o meio de fortalecê-lo ainda mais, como ocorreu nos casos da Vale, da Embraer e de outras empresas estatais, terá chegado a hora de transferir o seu controle para o setor privado. Antes disso, adotar o plano de Novaes é contribuir para a perda de valor da instituição, em detrimento do Tesouro e dos acionistas minoritários.

A rigor, se levado adiante o plano, com suas negativas consequências, caberia acusar o governo de abuso do controlador. Como se sabe, ao controlador cumpre agir para agregar valor à empresa, nunca para diminuí-lo.

Espera-se que Novaes, ao se familiarizar com as atividades do banco e com as responsabilidades do Tesouro, possa meditar melhor sobre sua ideia.

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