O discurso contorcionista de Haddad sobre a recessão
Em sua entrevista de ontem ao Jornal Nacional, o presidenciável Fernando Haddad realizou uma proeza de raciocínio. Para ele, a pior recessão da história do país não foi causada pelos erros clamorosos da gestão do PT, mas por pautas-bomba e outras aprovadas pelo Congresso com o objetivo de prejudicar o partido.
É certo que houve tanto as pauta-bombas quanto a decisão de extinguir o fator previdenciário, que é uma forma de calcular o valor das aposentadorias levando em conta a expectativa de vida da população. Trata-se de verdadeiro contorcionismo. Haddad, qual um mágico, procurou iludir o público com uma imagem fantasiosa. O Congresso não teve participação minimamente relevante no desastre da administração petista.
A recessão derivou de uma sucessão inacreditável de erros da política econômica, principalmente os incentivos equivocados ao consumo – sem contrapartida no aumento da oferta –, a intervenção no sistema de preços da energia elétrica e dos derivados de petróleo (que causaram enormes distorções), a ordem para o Banco Central reduzir a taxa básica de juros (a Selic) quando havia sinais de aumento da inflação, e a transferência, ao BNDES, de 500 bilhões de reais para distribuir crédito subsidiado. Essa última ação agravou a situação fiscal e colocou a relação dívida pública/PIB em trajetória insustentável, reduzindo a confiança no futuro da economia.
Haddad tem oferecido ao eleitor a ideia de que o país era feliz na era petista, mas seu bem-estar teria sido destruído por uma ação neoliberal de Michel Temer. Essa narrativa parecer ter convencido boa parte do eleitor mediano, o qual, em qualquer país, tende a ligar ao governo da hora o seu bem-estar ou sofrimento. Na realidade, é o oposto. Os petistas provocaram a recessão e Temer tem agido para consertar os erros e avançar em reformas que podem contribuir para elevar o bem-estar ao longo do tempo.
Utilizar uma mentira para transferir ao Congresso a culpa pela recessão é levar muito longe a certeza de que a opinião pública ignora os malfeitos do PT no governo, particularmente as lambanças do período de Dilma Rousseff no poder.