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21 de set de 2021 , 14h12

O Brasil não estava à beira do socialismo em 2019

 

O discurso de Bolsonaro na ONU primou pela descrição de um cenário róseo da economia, longe da realidade, e por inverdades

O discurso do presidente Jair Bolsonaro na ONU nesta terça-feira, 21, foi mais uma vez decepcionante. Na tradição brasileira, pelo menos até o governo FHC, a fala de nossos chefes de governo esteve focalizada essencialmente na visão brasileira sobre o cenário mundial. Bolsonaro usou o púlpito da ONU para novamente dirigir-se basicamente ao público interno, em particular aos seus apoiadores.

Bolsonaro descreveu um quadro positivo da economia brasileira longe da realidade. Comemorou as demonstrações de 7 de setembro, orientadas por pautas antidemocráticas, como as maiores da história (as maiores foram as de 2013 contra o governo Dilma). Deu a entender que é o primeiro presidente a acreditar em Deus. E assim por diante.

Duas partes de sua fala chamaram a atenção pelas inverdades. Primeira, a de que o Brasil estava à beira do socialismo quando ele assumiu. É mentira. Bolsonaro recebeu o cargo do presidente Michel Temer, que havia empreendido um conjunto impressionante de reformas estruturais, todas voltadas para reforçar as bases de uma economia de mercado e não para o socialismo.

Sabe-se que o governo da presidente Dilma Rousseff foi desfavorável à economia, em virtude do forte aumento da intervenção do Estado nas atividades econômicas. O controle de preços dos combustíveis e a redução forçada dos preços de energia elétrica cobraram preço elevadíssimo ao país. A política de formar campeões nacionais não deu certo. Nem de longe, todavia, se configurou um plano rumo ao socialismo nesse período. Dilma não teria capital político para tal empreitada.

A segunda foi sua afirmação de que os lockdowns respondem por boa parte da inflação mundial. Ele transpôs, para o planeta, a visão equivocada que professa no Brasil, segundo a qual os governadores têm culpa pela inflação por fecharem o comércio. É o contrário. Lockdowns significam forte retração da mobilidade urbana e das atividades econômicas. Essa medida contrai a demanda e, como tal, tem efeitos desinflacionários.

https://veja.abril.com.br/blog/mailson-da-nobrega/o-brasil-nao-estava-a-beira-do-socialismo-em-2019/

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