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1 de maio de 2012 , 21h02

Juro no pasto: o assustador ataque de Dilma aos bancos

O Brasil tem uma das maiores taxas de juros do mundo. Certo. Também tem um dos maiores níveis de emprego informal do planeta. Correto. As duas expecionalidades resultam de problemas estruturais acumulados ao longo de muitos anos, de díficil solução a curto e médio prazos e dependentes de complexas reformas institucionais. Os bancos não são, ao contrário do que se pensa, os grandes culpados pelas altas taxas de juros, assim como os empresários não são a causa da informalidade no mercado de trabalho.

Mesmo assim, a presidente Dilma fez ontem à noite um duro e assustador ataque contra os bancos, em cadeia nacional. Para ela, é “inadmissível que o Brasil, que tem um dos sistemas financeiros mais sólidos e lucrativos do mundo, continue com os juros mais altos do mundo”. Essa, convenhamos, é a percepção da maioria. Há, todavia, muitos estudos que explicam as razões das altas taxas de juros no país, inclusive no governo (Dilma e seus assessores podem ter acesso fácil a esses estudos no site do Banco Central). As taxas de juros altas refletem nossas próprias excepcionalidades em fatores que influenciam o tamanho do spread bancário. Nenhum outro país tributa tanto as transações financeiras ou tem tanto recolhimento compulsório de bancos ao Banco Central. Há outros fatores, como já comentei anteriormente neste blog.

A cruzada contra os bancos tem tudo para aumentar a popularidade da presidente. Com o intuito de reforçar os ganhos, ela incitou a população a forçar a queda da taxa de juros. Bancos não são populares em canto nenhum, mas no Brasil eles chegam a ser odiados. A desinformação, o preconceito e a ideologia formam um caldo complicado. Muita gente deve estar aplaudindo o discurso e dizendo impropérios contra quem criticar Dilma (como faço agora). A exemplo de outras vezes, deverei ser condenado e espezinhado pelo que escrevo, assim que este texto circular no Facebook.

Investir contra espantalhos e mirar efeitos com objetivos políticos tem sido uma característica de governos populistas. Atacar sintomas que a população confunde com causas gera ganhos de popularidade ou reverte sua perda. A perda ainda não é o que move Dilma a atacar os bancos, mas foi o caso dos generais argentinos que invadiram as Malvinas e da recente desapropriação, pela presidente Cristina Kirchner, das ações da Repsol na empresa petrolífera argentina YPF. Tal qual aconteceu em ações populistas semelhantes, particularmente no período de Juan Perón, o povo argentino apoiou: 62% se disseram a favor da desapropriação. O preço, como no passado, será altíssimo. Como diz a pida, “as consequências vêm depois”. A cruzada contra os bancos inclui determinação para que os bancos públicos reduzam as suas taxas de juros. A consequencia poderá ser enormes prejuízos para essas instituições, que serão pagos pelos contribuintes.

Nos tempos do Plano Cruzado, começou a faltar carne nos supermercados e açougues. Era um sintoma de uma causa – o congelamento dos preços – difícil de ser identificada pela população. A carne faltava porque o preço do boi gordo, tabelado, era inferior aos custos de produção. Vender a tal preço signficaria a falência. Como ocorreu em outros períodos da história mundial, os pecuaristas procuraram preservar o patrimônio duramente construído. Era melhor guardar o boi, arcando com o respectivo custo, do que levá-lo com prejuízo ao matadouro.

Como se recorda, o governo empreendeu, com apoio do ministro da Fazenda Dilson Funaro, uma ridícula ação de caça ao boi no pasto, empregando helicópteros e policiais federais. Deu no que deu. O errado era prolongar um congelamento insustentável, não a reação dos pecuaristas. Eles não eram especuladores, como se falava. Apenas buscavam se salvar da insanidade destruidora do governo. Do jeito que a coisa vai, Dilma terminará caçando juro no pasto. Isso porque, ao contrário do que ela e seus assessores pensam, os juros no Brasil não vão convergir tão cedo para níveis internacionais. A informalidade do mercado de trabalho tampouco será em breve a dos países desenvolvidos. Cabe lembrar que Funaro tabelou, sem sucesso, o spread bancário. Dilma fará o mesmo? Não me surpreenderia.

O Brasil vem perdendo o encanto em certos círculos no exterior, isto é, os que acompanham de perto os rumos da gestão governamental, particularmente da política econômica. A percepção de perda de dinamismo da economia brasileira é crescente. E das intervenções mal feitas na economia também. Isso leva tempo para se disseminar. Em algum momento, chegará às áreas de planejamento estratégico das empresas que investem ou pensam em investir no Brasil. O discurso de Dilma contra os bancos dará uma contribuição adicional para a mudança de percepção de aumento dos riscos.

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