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11 de maio de 2011 , 23h17

Inflação: a volta dos velhos e imprestáveis remédios

Nos tempos da inflação crônica e fora de controle, o governo lançava mão do que podia. O objetivo não era vencer o mal, mas evitar que piorasse. A partir da segunda metade dos anos 1970, os preços subiam sempre, cada vez mais, por uma combinação de inflação crônica e indexação ampla de preços, salários e contratos. Era a chamada inércia inflacionária, que foi enfrentada sem sucesso com cinco congelamentos de preços e salárinos, e somente seria resolvida com a engenhosidade do Plano Real e da formação de condições internas e externas inexistentes nos planos anteriores.

Nessa época, a necessidade de agir sobre as expectativas levava o governo a usar exortações nas conversas com empresários. Adicionalmente, controlava com mão de ferro os preços dos bens e serviços produzidos pelas empresas estatais: gasolina, diesel, energia, telecomunicações, produtos siderúrgicos, água, esgotos, correios e por aí afora. Pedia-se que os empresários não repassassem custos aos preços ou que segurassem reajustes. A eficácia do apelo era praticamente nulo, por razões óbvias, mas se ganhava destaque no noticiário.

Pois o atual governo começa a lançar mão desses mecanismos em um contexto radicalmente distinto. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, em reunião com empresários de São Paulo, pediu para que eles não repassassem custos aos preços. Os empresários devem ter ouvido, ficado surpresos e esqueceram do pedido. O ministro de Minas e Energia agora ameaça reduzir preços da BR, a subsidiária da Petrobrás que tem uma de postos de gasolina e diesel. Pode?

O controle de preços das estatais gerou sérias consequencias no passado. Já os apelos ao patriotismo dos empresários, mesmo que ineficazes, faziam sentido em outra situação. Impressiona, assim, ver a amnésia dominar mentes em Brasília. O sinal é péssimo. Ou o governo tem dúvida de sua ação antiinflacionária – considerada insuficiente por muitos analistas, inclusive este escriba – ou se curva a instintos intervencionistas, movido pelo medo de que seus críticos estejam certos.

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