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11 de jan de 2016 , 19h29

Ideias loucas para uso das reservas internacionais

A desinformação costuma ser fonte de propostas econômicas sem fundamento. A mais recente é a ideia de utilizar as reservas internacionais para ajudar Estados e municípios a enfrentar sua grave crise financeira ou para realizar investimentos de infraestrutura. Isso não faz o menor sentido. Está certo o ministro da Fazenda em rejeitar a proposta.

Há muitas razões para descartar a ideia, mas aqui vão as que me parecem as principais:
1) as reservas estão fora do país, em moeda estrangeira, aplicadas geralmente em títulos emitidos por governos ou organizações multilaterais. Os gastos seriam feitos em moeda local, isto é, em reais. Como resolver o problema?
2) o Banco Central teria que vender reservas no mercado local, recebendo reais em troca. Acontece que o BC não pode fazer empréstimos a instituições não-financeiras, como Estados, municípios ou concessionários de serviços de infraestrutura. Aí começa a complicar. Como fazer?
3) A solução seria o BC usar os recursos para comprar papéis do Tesouro no mercado secundário. A operação abriria espaço para o Tesouro emitir novos títulos no mercado primário. o Tesouro poderia entregar os recursos ao BNDES, para que este os emprestasse. Nova complicação: o Tesouro despejou R$ 500 bilhões no banco para a concessão de empréstimos subsidiados, o que criou muitos problemas. O governo se comprometeu a suspender essa operação. Recomeçaria tudo, arriscando-se a perder mais credibilidade? Como sair dessa?
4) Uma saída seria o governo propor ao Congresso a abertura de crédito adicional do Orçamento para ajudar Estados e municípios ou financiar obras de infraestrutura. A fonte de recursos seriam os recursos decorrentes da emissão de novos títulos. E como eles iriam para o setor público? Empréstimos a Estados e municípios ou simples dotação a fundo perdido? Mais complicação;

Se nada disso bastasse, a coisa mais louca seria a própria venda das reservas no mercado local. Isso criaria pelo menos três problemas:
a) a venda das reservas no mercado local acarretaria uma valorização da moeda nacional. O dólar ficaria relativamente mais barato, o que reduziria a competividade da indústria. O governo estaria destruindo uma das raras fontes de recuperação da economia nesta grave situação. Além disso, o dólar mais barato estimularia fugas de capital, inclusive porque a louca medida emitiria um mal sinal de política econômica. No segundo momento, a fuga provocaria desvalorização, gerando pressão inflacionária. A indústria ganharia, mas o mal sinal desestimularia as empresas a buscar mercados de exportação. Além da volatilidade, quem confiaria em um governo que adota medida tão louca?
c) as reservas constituem uma espécie de seguro neste momento de crise. Elas têm contribuído para evitar fugas de capitais. Sua redução, traria novas perdas de confiança e fugas de capital, com suas correspondentes consequências.

Custa a crer que ainda tem gente capaz de abraçar ideia tão estapafúrdia como a venda de reservas internacionais para financiar gastos em reais.

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