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21 de jan de 2022 , 13h53

Gleisi Hoffmann, do PT, defende uma economia à deriva

Uma economia não prospera sem estabilidade de preços, a qual somente pode ser assegurada se contar com pelo menos uma âncora

Continua a temporada de disparates sobre a política econômica, ditos por pessoas próximas de Lula. Foi o caso da presidente do PT, Gleisi Hoffmann. “Somos contra o teto de gastos. Somos contra qualquer tipo de âncora fiscal”, conforme o jornal Valor. Traduzindo, a petista se disse a favor de uma economia à deriva.

Os economistas tomaram emprestado da navegação uma ideia, a da âncora do navio, para explicar os instrumentos que asseguram a estabilidade da moeda. Como se sabe, a âncora permite que o navio oscile em torno de um ponto, aquele em que ela foi lançada. Sem a âncora, a embarcação ficaria à mercê das correntes marítimas e das marés.

Na economia, a estabilidade de preços, na ausência de controles pelo governo, pode ser assegurada por três âncoras: a monetária (a taxa Selic), a fiscal (a responsabilidade na gestão das contas públicas) e a cambial (uma taxa fixa de câmbio). Neste momento a âncora básica é a monetária, já que as manobras patrocinadas do atual governo, que resultaram no calote dos precatórios e na mudança na forma de cálculo do teto de gastos, destruíram a âncora fiscal. Na área cambial, o regime de câmbio flutuante, o mais adotado no mundo e no Brasil, não permite o uso da taxa de câmbio como âncora.

Gleisi Hoffmann se junta a outros petistas influentes que defenderam recentemente a volta de políticas fracassadas que jogaram o país na recessão de 2015 e 2016, da qual ainda não nos recuperamos totalmente. O ex-ministro Guido Mantega propôs a volta da desastrada Nova Matriz Econômica, fonte essencial daquela recessão. Lula declarou que, se eleito, eliminaria o teto de gastos e revogaria a reforma trabalhista. Prometeu ainda que os preços dos combustíveis não seriam reajustados com base nas cotações internacionais do petróleo, o que significaria reeditar a desastrada política de controle dos preços dos combustíveis no governo Dilma Rousseff, que acarretou prejuízo de 50 bilhões de reais à Petrobras.

Diz-se que essas declarações têm por objetivo manter o apoio de eleitores de Lula, que acreditam nessas ideias equivocadas. Mais tarde, caso eleito, o ex-presidente adotaria uma postura pragmática, desprezando tais propostas. Foi assim nas eleições de 2002, quando Lula, depois de vitorioso, abandonou o programa do PT, que era assustador até no título: “Uma ruptura necessária”. Manteve-se a política econômica de FHC e Lula foi além. Aceitou uma forte elevação da taxa Selic logo no início do governo e autorizou o aumento do superávit primário. Essas ações evitaram que ele enfrentasse uma crise de confiança na partida, o que poderia ter inviabilizado o seu governo. Talvez não teria sido reeleito.

Muitos esperam que o ex-presidente, caso ganhe as próximas eleições, jogue fora tudo de errado que ele próprio e seus apoiadores mais próximos estão prometendo. Mesmo que assim seja, as declarações equivocadas causarão danos à economia, decorrentes das incertezas que se disseminarão nos mercados até a realização do pleito, o que pode gerar fugas de capitais e influir negativamente em decisões de investir. Uma grossa irresponsabilidade.

Por Maílson da Nóbrega 21 jan 2022, 12h16

 

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