Erro do Papa não absolve pecados de Bolsonaro
O fato de o pontífice não usar máscara em evento público não justifica a reiterada transgressão às regras de uso desse fundamental acessório
O presidente Jair Bolsonaro publicou nesta terça-feira, 23, via Twitter, um vídeo em que o Papa Francisco cumprimenta fiéis no Vaticano, sem usar máscara. Ele não comentou o vídeo, limitando-se a registrar um “Bom dia”. Apoiadores responderam com uma pergunta: “O Papa sem máscara pode, né?”
Desde pelo menos a Gripe Espanhola, de um século atrás, sabe-se que a utilização de máscaras durante pandemias é uma forma eficaz de proteção contra doenças como a Covid-19. Usá-las é um gesto civilizado, pois protege não apenas o usuário, mas também os que com ele interagem. Adicionalmente, contribui para limitar a circulação do vírus e para evitar o congestionamento e o colapso dos serviços de saúde. Mais vidas são salvas. Por isso, em todo o mundo há leis que obrigam o uso da máscara em locais públicos.
A teimosia de Bolsonaro em ignorar essa realidade é um dos mistérios deste governo. Trata-se, na verdade, de grossa irresponsabilidade. O presidente disse outro dia que usar máscara é atitude de maricas. Reiteradamente, afirma que pessoas corajosas devem enfrentar a doença, em lugar de usar a máscara. Conclusão: deve-se buscar a contaminação. Esse comportamento tem justificado a conclusão de que objetivo de Bolsonaro é induzir os brasileiros a se infectarem e, com isso, alcançarem mais rapidamente a imunidade de rebanho, liberando de vez as atividades econômicas.
Escorar-se na atitude do Papa quanto ao não uso da máscara é inaceitável. Representa uma forma equivocada de eximir-se da responsabilidade neste e em outros os graves equívocos cometidos na pandemia. Ou de fugir da acusação de que tem culpa por grande parte de mortes que poderiam ter sido evitadas caso o presidente se comportasse adequadamente.
O Papa errou ao encontrar-se com fiéis sem usar máscara. Isso não absolve Bolsonaro, todavia, de comportar-se à altura do que se espera de um chefe de governo minimamente racional e cumpridor de seus deveres.
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