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20 de abr de 2018 , 10h52

Eleições presidenciais: ganhar é uma coisa, governar é outra

O ex-ministro do STF Joaquim Barbosa (Andre Coelho/Bloomberg/Getty Images)

Participantes do mercado financeiro têm-se interessado pela candidatura do ex-ministro do STF, Joaquim Barbosa pelo PSB. As ideias econômicas de Barbosa os tranquilizam, inclusive pelas reuniões que ele tem mantido com economistas liberais.

De fato, é melhor ver a defesa de ideias responsáveis de Barbosa do que as de Guilherme Boulos, que promete não pagar a dívida interna. Ou de Ciro Gomes, que defende a reestatização da Embraer. Não entram nas análises as ideias oficiais do PSB nem se Barbosa teria as qualidades para negociar difíceis reformas com o Congresso.

Muitos releram a entrevista do ex-ministro ao jornal Valor (1/9/2017), na qual ele defendeu a “saída do Estado da condição de sócio majoritário de empresas estatais”. Barbosa apoiou as reformas da Previdência e do Trabalho, bem como o fim da contribuição sindical obrigatória.

O interesse pelas ideias de Barbosa animou o PSB. Segundo a Folha de S. Paulo (19/4/2018), o partido pressiona o ex-ministro “a apresentar um conjunto de propostas que sejam simpáticas ao mercado financeiro e, ao mesmo tempo, favoráveis à distribuição de renda, na tentativa de viabilizar uma candidatura à Presidência”.

Por certo, ninguém leu um documento básico do PSB, o Plano Estratégico de Desenvolvimento Nacional, disponível no site do partido. Lá se verá ideias nem tão liberais. Ao contrário, o documento critica severamente o sistema capitalista. As ideias estão mais próximas do PT do que do Consenso de Washington.

Além disso, a forte demanda por um candidato responsável permite esquecer algo fundamental para quem se eleger: a habilidade para formar uma coalizão majoritária de governo e negociar com o Congresso a aprovação das propostas vencedoras.

O próximo Congresso será parecido com o atual. Como disse Ulysses Guimarães, “pior do que o atual Congresso só o próximo”. A cultura fisiológica continuará a ditar a lógica da negociação. O presidente precisa entender o jogo, transformar recursos políticos em moeda de troca clientelista e mostrar-se simpático a figuras execráveis.

Infelizmente, este ainda é o Brasil político. Mesmo assim, dois recentes chefes de governo, FHC e Michel Temer, conseguiram atuar nesse jogo. Preservaram os dedos, entregando anéis. Foram os mais reformistas do atual período democrático.

Se eleito, Barbosa não precisará ter lido o documento do PSB, que será esquecido como tantos outros. O desafio será o da negociação com o próximo Congresso, mesmo que não seja o pior, mas apenas da mesma qualidade do atual.

O mercado poderia, além de olhar as idei

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