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12 de abr de 2020 , 12h21

É equivocada a proposta de Guedes de venda das reservas

Vender reservas internacionais com o objetivo de reduzir a dívida interna da União impactaria negativamente toda a economia

Em reunião com senadores neste sábado, o ministro da Economia, Paulo Guedes, teria admitido a venda de reservas internacionais para abater a dívida pública. Presente ao encontro, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) confirmou ao site Poder 360 a fala do ministro.

O senador informou que o ministro teria dito o seguinte: “O Brasil não precisa de todo este volume em divisas internacionais, talvez a metade disso. Assim, passada a crise, nada impede que possamos utilizar parte deste montante para pagar a conta da crise e até reduzir nosso endividamento”.

A ideia de Guedes é inconveniente e inútil. As reservas internacionais estão denominadas em moeda estrangeira, enquanto a dívida pública, as despesas de consumo e os investimentos são expressos em moeda nacional. Se o governo decidir torrar as reservas terá que primeiramente vendê-las no mercado de câmbio doméstico.

É aí que as coisas começam a se complicar. As reservas integram o patrimônio do Banco Central (BC). Para abater a dívida interna, o BC teria que transferir os valores ao Tesouro, mas a Constituição o proíbe de financiar a União.

Além disso, uma venda maciça de dólares pelo BC deprimiria a taxa de câmbio, diminuindo a competitividade das vendas externas em momento de contração do comércio global. Em cima de queda, coice para os exportadores. Haveria o barateamento das importações, prejudicando a indústria nacional.

Mais do que isso, a operação destruiria inutilmente o precioso volume de reservas. Isso porque o BC pode alcançar o mesmo resultado comprando títulos do Tesouro no mercado secundário, em ação conhecida como “operações compromissadas”. O efeito monetário seria o mesmo, preservando as reservas.

A acumulação de reservas internacionais dos últimos vinte anos custou muito ao Brasil. Elas constituem um seguro contra crises de confiança que podem disparar uma corrida contra o país, acarretando desnecessária crise cambial. Esse custo é o preço que se paga para a tranquilidade atual no balanço de pagamentos. Lembre-se que, em tempos passados, crises dessa natureza provocaram queda da atividade econômica, da renda e do emprego.

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