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21 de mar de 2011 , 23h28

É bom ou ruim uma diretoria puro sangue no Banco Central?

Entre as visões que comemoram um suposto alinhamento do Banco Central com as teses “desenvolvimentistas” da Fazenda, surgiu uma novidade. Conhecido comentarista escreveu artigo em que enxergou uma mudança positiva no BC, qual seja a ausência de pessoas oriundas do mercado financeiro em sua diretoria. O comentarista celebrou o novo BC. Será?

Há de fato sinais de que temos um novo BC, mais preocupado em preservar um nível mínimo de crescimento e da taxa de câmbio do que em enfrentar o ritmo da inflação. Muitos analistas, inclusive este escriba, temem que o BC esteja assumindo riscos excessivos. Reduziu a consideração do papel das expectativas para formar juízo sobre a ação da política monetária. Deu a entender que vai usar mais as chamadas “medidas macroprudenciais” em lugar de lançar mão da arma mais eficaz à sua disposição, isto é, a taxa de juros. Restrições macroprudenciais ao crédito têm pouca ou nenhuma influência na inflação de serviços, que está rodando a 8,5%. Seja como for, o BC tem o direito legítimo de tentar caminhos diferentes para cumprir a meta para a inflação. O futuro dirá se está certo. Ou então ele emite novos sinais que desmentem temores.

Independentemente do que vier a acontecer, soa ridícula a tese de que é melhor um BC “puro-sangue”, isto é, com uma diretoria composta exclusivamente por funcionários. Em primeiro lugar, lança uma desconfiança grave sobre as pessoas que saem do mercado financeiro para servir como diretores do BC. É como se fossem lá para defender interesses dos bancos para os quais trabalhavam ou voltarão a trabalhar. A rigor, a estúpida tese merecia ser levada à barra dos tribunais, pelas suspeitas levianas que levanta. É comum, nos países desenvolvidos, a participação desses especialistas na diretoria dos bancos centrais. Eles levam visões distintas da realidade e assim contribuem para o debate. A divergência não é um mal. Ao contrário. O Banco da Inglaterra tem um programa pelo qual seus funcionários estagiam em bancos, os quais mandam seus funcionários para ficar um período no banco central. Tudo transparente, sem suspeitas maliciosas. Todos ganham.

Ao contrário da visão do comentarista, não é bom para o BC que sua diretoria seja composta exclusivamente de funcionários. Quem conhece os membros da atual diretoria do BC sabe que se trata de pessoal altamente qualificado, experiente, grande parte com pós-graduação no exterior, inclusive a nível de Phd. Isso não se discute. A questão é outra. O BC tem uma cultura, em parte herdada do Banco do Brasil, de reverenciamento dos superiores. O sentimento de hierarquia é acentuado pela característica hiperpresidencialista da organização. Em nome da carreira e da lealdade à instituição, dificilmente se discorda frontalmente dos chefes. Não chega a ser subserviência, mas está longe de dar lugar a divergências, que são mais comuns quando pessoas fora da hierarquia do BC integram sua diretoria. Não por acaso, desde que restou apenas Henrique Meirelles como forasteiro na diretoria (e ele era o presidente, como se sabe), as decisões do Copom passaram a ser tomadas sistematicamente por unanimidade. A unanimidade continua com substituição por um funcionário, Alexandre Tombini. A unanimidade de votos nas decisões de política monetária não é uma situação comum em bancos centrais e provavelmente se explica por aqui por conta dessa cultura.

Há um mistério no ar. A imprensa noticiou que pessoas do mercado financeiro haviam sido convidadas para a diretoria do BC. A presidente Dilma Rousseff, em sua entrevista ao jornal Valor, disse que não haveria problema em ter pessoas do mercado financeiro na diretoria do BC. Mesmo assim, só se encaminha para o Senado nomes de funcionários do BC. As teorias conspiratórias começam a circular, incluindo a de que estaria havendo resistências à nomeação dessas pessoas, baseadas exclusivamente em sua origem, isto é, o mercado financeiro. Mais uma preocupação, que espero possa ser em breve desmentida por fatos.

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