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11 de abr de 2012 , 21h08

Dilma vai aos Estados Unidos. E erra

Dois equívocos foram cometidos pela presidente Dilma em sua recente viagem oficial aos Estados Unidos. O primeiro foi repetir o que ela já vinha dizendo no Brasil, isto é, que a expansão de liquidez (que ela chama de “tsunami monetário”) tem o objetivo de desvalorizar moedas dos países desenvolvidos e assim prejudicar a economia dos países emergentes, reduzindo sua competitividade. O segundo foi levar sua queixa ao presidente Obama.

A expansão de liquidez, adotada pelos bancos centrais dos EUA, do Reino Unido, da Zona do Euro e do Japão visou a evitar duas catástrofes. No caso particularmente dos Estados Unidos, o objetivo foi prevenir a repetição da Grande Depressão. O presidente do Fed, Ben Bernanke, um dos grandes estudiosos do fenômeno, sabe que uma de suas causas foi a contração de liquidez promovida pelo banco central americano. Sua ação nos últimos meses, denominada “quantitative easing”, foi a forma de evitar a “armadilha da liquidez”, que é a situação em que o Banco Central não tem mais como reduzir a taxa de juros. Na Europa, o objetivo foi evitar que a crise de endividamento desaguasse numa crise financeira, com quebras de bancos, que poderiam acarretar o colapso do euro.

Até agora, os objetivos foram alcançados. O mundo está melhor do que estaria sem as medidas, ainda que elas tenham efeitos colaterais, como o de provocar a valorização de moedas de outros países. A presidente Dilma e seu ministro da Fazenda, que vivem falando contra tais medidas, parecem sugerir que o melhor seria deixar os países ricos quebrarem. O Brasil ficaria em pior estado. Assim, a rigor, Dilma deveria apoiar as medidas e dela extrair legitimidade para agir no sentido de contrabalançar seus efeitos colaterais sobre a economia brasileira.

Pior mesmo foi levar a queixa a Obama. Ele nada tem a ver com isso. Primeiro, porque o Fed é independente. Não recebe ordens da presidência. Segundo, porque nem ele nem o Fed têm condições de forçar outros bancos centrais a atender os apelos da Dilma, mesmo que eles tivessem procedência. Talvez a presidente tenha sido traída por sua visão pessoal do processo. Fala-se que ela tem dado ordens ao Banco Central para reduzir a taxa de juros.

Há uma explicação para esses equívocos. O propósito da reclamação dela seria a busca de um inimigo externo, para por a culpa pelos problemas internos, que nós próprios criamos. A técnica é conhecida. Os argentinos a usaram na guerra das Malvinas. Líderes populistas latino-americanos a adotaram em diferentes circunstâncias, quase sempre utilizando os Estados Unidos como vilão.

Não fossem apenas esses equívocos, a presidente resolveu falar de juros e spread bancário em sua estada nos EUA. Isso agrada empresários e certos formadores de opinião, mas não é compatível com a majestade do cargo. Presidentes e ministros da Fazenda não falam de juros. Isso é no máximo tarefa do presidente do Banco Central. Fazer o que? A presidente e o ministro adoram falar do tema.

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