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21 de fev de 2021 , 07h45

Dilemas criados pela intervenção na Petrobras

 

O novo presidente da Petrobras e o ministro da Economia podem ter que optar entre preservar a imagem e a curvar-se a interferências nos preços da empresa

A saída do presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, não teria sido uma intervenção segundo o presidente Jair Bolsonaro, pois ele teria apenas negado a renovação do seu mandato, que se expira em março. Ocorre que até as pedras sabem que o natural nesses casos é a renovação do mandato pelo número de vezes previstas nas regras.

A ação parece ter decorrido do desejo de Bolsonaro de não contrariar os caminhoneiros que podem ajudá-lo no projeto de reeleição. Contou também a insatisfação com os reajustes de preços dos combustíveis, que considerou “errados”. Razões sem sentido também funcionaram, caso da crítica ao trabalho remoto de Castello Branco, uma prática recomendada pela ciência (ele pertence ao grupo de risco). Bolsonaro recorreu também à teoria conspiratória ao dizer que o objetivo do aumento de preços era retirá-lo do cargo.

A intervenção deve abalar a expectativa de quem acreditou na conversão do presidente ao liberalismo. Dias antes, ele assegurara que não interferiria na política de preços da empresa. A promessa desabou quando considerou que os preços estavam “errados” e que poderiam ser menores, sem qualquer base técnica. O presidente não é confiável, pois. A reação do mercado pode ser intensa nesta segunda feira. No after market de sexta-feira em Nova York, os títulos da empresa caíram mais de 11% contra 7% na B3.

Duas autoridades – o novo presidente da Petrobras e o ministro da Economia – enfrentarão um dilema complicado. O primeiro não receia interferência na definição dos preços, mas já adiantou que a empresa precisa ter “sensibilidade” aos interesses dos consumidores. Mau sinal. A julgar pelas razões invocadas por Bolsonaro para defenestrar Castello Branco, a Petrobras não terá liberdade para reajustar preços para cima. Na era Dilma Rousseff, essa intervenção custou R$ 100 bilhões á empresa.

Assim, o general Silva e Luna terá que torcer para que as cotações externas do petróleo não subam e que o real não se desvalorize perante o dólar. Esses são os dois determinantes dos reajustes. Se a sorte não estiver do lado dele, terá que optar entre manter-se no cargo curvando-se às pressões ou guiar-se por razões técnicas, o que poderia implicar sua demissão.

Até por ex-auxiliares, Paulo Guedes recebeu críticas pela forma como se submete aos instintos e desejos do presidente. Salim Mattar, ex-xerife da privatização, disse que o ministro precisa perceber que “não venceu”. A julgar pelo que falou após intervenção, Guedes decidiu ficar no cargo, mesmo tendo perdido a condição de “Posto Ipiranga” e provavelmente a crença de que teria convertido Bolsonaro ao credo ultraliberal. Seu dilema estará, portanto, em escolher entre demitir-se para defender sua reputação ou correr o risco de seguir em frente com o capitão, na esperança de que reformas estruturais sejam aprovadas pelo Congresso. Elas não acarretariam a sonhada revolução liberal, mas seriam o legado de sua contribuição à melhoria da qualidade das finanças públicas, da gestão macroeconômica e do ambiente de negócios. O tempo dirá.

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